Indutivismo Instrumental x Indutivismo Objetivo
(Todos! contra Paralelo)
Aqui eles até riem de mim, juro!
Estou contestando uma tradição filosófica basilar, quase um atestado divino de como a Filosofia pode urinar no pátio da Ciência e sair impune.
A questão é: há justificativa racional para extrair regras gerais (ou pelo menos conclusões além) de casos particulares? A filosofia desde Hume, e por causa dele, tem aceitado, no maior deboche e cinismo, que não – que usar regularidades observadas (os casos particulares) para prever o futuro (fazendo uma lei, que é a regra geral; ou meramente apostando na continuidade do padrão) é uma atitude arbitrária, sem qualquer sustento racional em seu favor, cujo único valor é “instrumental”.
Instrumental? A idéia é que o indutivismo “funciona, mas não é verdade”. Isso me faz pensar em como um mapa que marca o X do Tesouro no lugar correto pode ser “falso, porém útil”. Só pode ser útil se for verdadeiro, é claro. Se as regularidades observadas não persistissem de fato, o indutivismo não teria valor “prático” algum.
Meus amigos intelectuais não são relativistas. São amantes da ciência e defendem avidamente o seu poder cognitivo. Então, surpreendem-me que, no maior ar de paternalismo, queiram me consolar com a idéia de que o indutivismo não precisa de justificativa para podermos confiar na ciência!
Pressionados, contudo, sentem o drama. Se estiverem certos, eis o que teremos: acreditar que um copo largado no ar, da próxima vez, subirá (ou ficará verde; ou quebrará no ar) é algo “tão (ir)racional quanto” pensar que ele cairá – como sempre fez no passado. É claro que isto não nos deixa confiar na ciência!
Tanto faz montar o avião segundo as técnicas de engenharia clássicas, ou segundo a leitura de búzios: nada é realmente melhor. Entendam: não existe motivo nenhum (!) para preferir a montagem do avião segundo as técnicas de engenharia. Em suma: não há motivo nenhum para esperar que qualquer padrão (no caso do avião, as leis da física e os padrões dos materiais) que persistiu até hoje, persista no próximo momento.
Meu primeiro ponto, então, é: não faz sentido concordar com Hume sem, ao mesmo tempo, cair no relativismo de qualquer conclusão indutiva – toda a ciência incluída aí!
Agora, eu penso que o indutivismo é justificável com base em argumentos probabilísticos que desembocam – evitando a circularidade de o indutivismo ser embasado no indutivismo – em argumentos “platônicos” (ê, Dennett!) sobre o universo de possibilidades lógicas. Sim, foram levantadas críticas poderosas e legítimas contra minhas idéias, e continuo as digerindo. Mas, resumindo, meu argumento é (pegando papel de anotações recentes):
1- No universo das possibilidades lógicas, existem (muito) mais disposições caóticas do que disposições regulares, portanto…
2- Disposições regulares são mais improváveis de ocorrer por acaso do que disposições caóticas. Portanto…
3- Um regularidade observada provavelmente não é fruto do acaso – ou seja, provavelmente é causada.
4- [Isso vai doer:] A causa sem dúvida persistiu ativamente enquanto a regularidade foi observada – ela tende a persistir.
5- É improvável que a causa persistente seja aleatoriamente interrompida num momento específico – portanto, é improvável que seja aleatoriamente interrompida no próximo momento.
6- Ergo, é provável que uma regularidade observada persista no próximo momento! [Fogos de artifício!]
Há uma avalanche de críticas e, sobretudo, pontos confusos e mal compreendidos aí. Infelizmente pra mim, o argumento parece tão absurdo a princípio, para meus amigos, que eles preferem lutar para esquecê-lo a colaborar numa investigação minuciosa dos detalhes… Como eu disse, continuo digerindo as críticas. O filho é meu, eu que cuide!
Escusado dizer, o Diego acha que minha insistência é fruto de maus-tratos na infância.
E, yeah!, até a próxima rodada!
março 16, 2008 às 7:59 pm |
Não entendi muito bem, mas acho que nesse caso vale uma abordagem bayesiana. A ciência se baseia na probabilidade.
março 18, 2008 às 4:38 am |
A abordagem bayesiana, ou seja atribuir crenças conforme o evento for se repetindo parte do pressuposto que em alguma medida a sua amostra inicial é correpondente do comportamento do todo. Ela não avança além da idéia de hume, ao menos em sua forma proposta por Russell em “os problemas da filosofia” mas ela formaliza o assunto.
Agora, sem dúvida só maus tratos na infância justificam um indutivista objetivo. E as pessoas que ele alega que gostam dele e que agora me odeiam porque zoei ele no post da moral que venham me encarar se acham o contrário. Mas elas que tomem cuidado, porque no passado eu sempre ganhei discussões sobre indutivismo, e se elas, em seu indutivismo objetivo, estiverem certas, isso implica necessariamente que eu vou ganhar de novo.
abril 13, 2008 às 3:28 pm |
Só queria deixar claro que minha abordagem, contudo, não é bayesiana.
Em nenhum momento eu pretendo defender o indutivismo forte (e caricato) que a história atacou e facilmente venceu. Ele é um espantalho. É absurdo você sair de casos particulares e extrapolar para afirmações seguras sobre todo o futuro – ou restante das possibilidades, ou amostra geral, etc.
Tudo o que pretendo é justificar a confiança probabilística de que os próximos eventos se repetirão.
Dito isso, é absurdo que o Diego conclua seu comentário com: “se [os indutivistas] estiverem certos, isso implica necessariamente que eu vou ganhar de novo”.
abril 14, 2008 às 5:47 pm |
Acho que me enganei no termo bayesiano, então, na verdade eu inventei minha teoria, vi que a bayesiana era parecida, e supus que era a mesma coisa. Quis dizer confiança probabilística.