MATEMÁTICA vs FILOSOFIA

junho 19, 2014


 Trazer claramente à mente o que é significado por
conjunto, e distinguir essa noção de todas as noções
à qual ela é aparentada, é um dos mais difíceis
e importantes problemas da filosofia matemática.

— Bertrand Russell, The Principles of Mathematics (1903), p. 66


Como eu odeio a… Teoria dos Conjuntos! Mas sim, agora eu preciso explicar. Por que alguém em sã consciência diria algo assim? ¿A teoria dos conjuntos não é apenas aquela simpática linguagem auxiliar nas partes introdutórias de matemática, onde se diz coisas como “a pertence a B” (aB) ou “M está incluído em N” (MN)? Assim ela é apresentada nas escolas, certamente. Mas qualquer um que, como eu, se preocupe com os fundamentos objetivos da razão, logo se preocupará com os fundamentos da lógica e da matemática – os formais e, sobretudo, os informais. E cedo descobrirá que a teoria dos conjuntos – aquela mesma do colegial – é na verdade uma teoria surreal e altamente complexa que, longe de ser um ramo da matemática, é ampla e historicamente considerada o seu verdadeiro fundamento, até mesmo sua verdadeira metafísica (onde se chega a afirmar, por exemplo, que números são de fato apenas conjuntos).

Eu não posso concordar. Números são perfeitamente compreensíveis e objetivos. Conjuntos, muito ao contrário, são invenções teóricas bizarras – bem mais bizarras do que parecem à primeira vista – sem qualquer pé na realidade. Uma ideia vaga e cheia de ambiguidades, de que vários objetos “formam um conjunto”, é retorcida e modificada de formas complexas, até ser capaz de ser usada para “demonstrar” fatos previamente óbvios como que 2 + 2 são 4, que ⅓ de 24 é 8, que a solução de x² = 9 é ±3, e por aí vai, escala acima na complexidade matemática, como se os fatos sobre conjuntos fossem mais fundamentais ou evidentes que os fatos sobre números.

De um ponto de vista filosófico – e esse é o assunto deste texto – a teoria dos conjuntos é um fundamento absurdo para a matemática. O conflito é que, de um ponto de vista técnico e matemático, a mesma teoria dos conjuntos se provou espetacularmente frutífera e abrangente, além de perfeitamente rigorosa em termos formais. Que fazer desse conflito entre filosofia e matemática?

A ideia inicial é superficialmente plausível: olhe para a estante e o que você vê? Um conjunto de livros, não? Há conjuntos de coisas por toda parte, e falamos de conjuntos o tempo todo… não? Em cada texto introdutório de lógica, matemática ou teoria dos conjuntos, se chama atenção para esses fatos, como que mostrando que conjuntos são coisas perfeitamente aceitáveis, até banais. Mas a verdade é que, num conjunto de livros, não há nada além dos próprios livros individuais; isto é, não há os livros individuais e, além deles, o “conjunto” deles (como se fosse uma entidade extra). Mas os conjuntos da teoria dos conjuntos são exatamente esse tipo de fantasma ontológico: se você tem cinco livros, imediatamente você tem uma sexta coisa pairando sobre eles – a saber, o suposto conjunto dos cinco livros.

Como explica o matemático John Mayberry, “a suposição fundamental da teoria dos conjuntos é essa: sejam quais forem as coisas que há, pluralidades definidas compostas destas coisas são, elas próprias, coisas; e, como tais, servem como unidades em novas pluralidades” (The Foundations of Mathematics in the Theory of Sets, 2001, p. 61). Pois bem, se essa é a suposição fundamental, ouso afirmar que é obviamente falsa. É justamente essa licença metafísica absurda, de criar entidades do nada, que está por trás de toda a concepção matemática moderna. Você gera – magicamente – objetos chamados “conjuntos” a partir de objetos ordinários. E embora a ideia inicial fosse apenas que vários objetos poderiam formar um conjunto – o que já é absurdo o suficiente se tal “conjunto” é algo distinto dos objetos – o fato é que um só objeto basta para fazer a mágica; não, é ainda pior: mesmo nenhum objeto basta! Como cada um de nós aprendeu no colégio, dado um objeto qualquer, digamos uma bicicleta, haverá logo um outro objeto distinto, surreal e insuspeito, chamado “o conjunto unitário da bicicleta” [em inglês, o termo para “conjunto unitário” é singleton, então seria o singleton da bicicleta; doravante usarei esse termo]. Eis abaixo, plenamente apresentados, nossos dois objetos:

Enquanto o primeiro objeto é de fato ordinário, o segundo é um tipo incompreensível de entidade; em particular, não é uma bicicleta, e nem outro objeto físico – então é o quê? E, como sempre, se temos essas duas entidades, também temos automaticamente uma terceira, ainda mais estranha – o conjunto das duas anteriores:

Mas então agora temos três. E se temos três, temos quatro (a saber, o conjunto das três anteriores); e se temos quatro, temos cinco; ad infinitum… O que é basicamente a razão de por que a teoria dos conjuntos funciona como fundamento da matemática: os próprios números são gerados exatamente desse modo. De fato, eles são gerados a partir de um conjunto especialmente estranho. Pois o que ocorre se não há nenhum objeto para começar? Oras, o que você acha? O seguinte!

Isto é, existe um conjunto de nada, o famoso conjunto vazio: Ø. O conjunto em si, veja só, é alguma coisa – um objeto como qualquer outro. Pura e simplesmente, ele não é um conjunto de vários objetos ou mesmo de um só objeto; é um conjunto de objeto nenhum. Não bastasse isso, nos dizem que tal conjunto paradoxal é o próprio número zero (e o conjunto dele – a saber, {Ø} – é o um; e o conjunto dele e do um – {Ø, {Ø}} – o dois; etc., como acima). Pois sim, como eu odeio a Teoria dos Conjuntos! De algum modo, essa magia negra metafísica se tornou o fundamento reconhecido da matemática moderna.

Eu poderia listar uma série de estranhezas adicionais, e há muitas delas, mas de especial interesse aqui são duas: o fato de supostamente haver conjuntos infinitos, o que é toda uma nova camada de absurdo em cima do que já vimos, e o fato de que mesmo aceitando tudo isso, ainda a esmagadora maioria – de fato, a quase totalidade! – das coleções não formarem conjuntos (sob pena de contradição).

Primeiro, os supostos conjuntos infinitos. Como pode haver tal coisa? Por mais que você admita toda a magia anterior, tudo o que você consegue obter com ela são conjuntos finitos: o singleton da bicicleta; o conjunto duplo contendo a bicicleta mais… o singleton da bicicleta; o conjunto contendo a bicicleta e os dois conjuntos anteriores; e por aí vai:

        . . .

Note que todos os conjuntos gerados (ou descobertos, como queira) por esse princípio são finitos: possuem um, dois, três, quatro, etc., elementos – nunca infinitos. E, no entanto, quase a primeira coisa que é ensinada em aritmética elementar, como se não fosse nada demais, é que existe um conjunto dos números naturais, isto é, um conjunto contendo todos os números naturais; um conjunto infinito:

ℕ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, …}

Outra vez, como pode haver tal coisa? Você pode ter os seguintes conjuntos abaixo, todos finitos:

0 = {  }
1 = {0}
2 = {0, 1}
3 = {0, 1, 2}
4 = {0, 1, 2, 3}

Por essa via, é absolutamente impossível chegar a algo como ℕ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, …}. Se há infinitos números, isso pode justamente implicar que eles não formam uma totalidade: não se pode capturá-los todos num agrupamento definitivo, exatamente porque dado qualquer agrupamento específico, sempre há mais números fora. O filósofo Adrian Moore, considerando se existem quaisquer conjuntos infinitos, e ainda que tomando os números naturais como um exemplo plausível, sintetizou a dúvida assim: “parece que haver infinitamente muitas coisas de um certo tipo significa precisamente que elas resistem a ser coletadas juntas desse modo” (The Infinite, 1990, p. 10). Pra falar pitorescamente, simplesmente não há meios de fechar as chaves em {0, 1, 2, 3, 4, 5, … e assim formar um objeto. Não se pode fechar as chaves após o 4, nem após 7 milhões, nem em parte alguma. Defensavelmente, essa é a essência do infinito. Mas o que a teoria dos conjuntos standard nos diz? Simplesmente afirma de forma gratuita – num axioma – que infinitos elementos podem formar um conjunto definido, e ponto final. E é isso o que está por trás de todas as afirmações inacreditáveis sobre o infinito, como a de que a quantidade de números naturais é igual à quantidade de números pares, por um lado, ou à de números racionais, por outro; ou de que nenhuma lista discreta, mesmo infinita, pode conter todos os números reais (cuja quantidade, assim, é dita “incontável”). Visto nos fundamentos, nada disso é de surpreender: o postulado implícito é que a quantidade de números naturais é, basicamente, a pseudoquantidade dinâmica “sempre há mais” – e, nesse sentido, essa é “exatamente” a quantidade de números pares ou de racionais: “sempre há mais”. Grosso modo, é imediato sair disso para uma pseudoquantidade de nível superior, “sempre há mais e muito mais ainda além desses”, que é reservada aos números reais. O que me parece é que isso não é uma medida de quantidade em qualquer sentido concreto, mas uma medida do poder de criação metafísica de elementos – criação ex nihilo – em cada “conjunto infinito”: conjuntos finitos não podem criar novos elementos – só têm os elementos fixos que têm; conjuntos infinitos contáveis (i. e., do tamanho do conjunto dos números naturais) podem criar elementos ilimitadamente, desde que “de finitos em finitos”; e conjuntos infinitos incontáveis (entre eles, o conjunto dos números reais) podem criar elementos de formas mais e mais abundantes: de infinitos em infinitos, de incontáveis em incontáveis, etc. Obviamente não é assim que se costuma interpretar os conjuntos infinitos, como se fossem entidades “móveis”, essencialmente dinâmicas. Estou deliberadamente sugerindo que tal interpretação pode ser muito mais reveladora sobre o que realmente está por trás do formalismo.

Segundo, e mais rapidamente, o fato de a maioria das coleções não formarem conjuntos. Como assim? “Coleção” não é sinônimo de “conjunto”? Deveria ser, mas quando se postula o tipo de conjunto mágico de que trata a teoria dos conjuntos, o que se descobre é que ou a noção é contraditória, ou deve haver coleções – de fato, quase todas – que não são conjuntos. Pois se todas as coleções (o termo mais comum é “classes”) fossem conjuntos, então a totalidade dos conjuntos – que sem dúvida deve ser uma coleção como qualquer outra – seria também um conjunto: o conjunto de todos os conjuntos. Pra começar, claro, esse conjunto deveria conter a si mesmo. Estranho, mas não obviamente impossível. Seja como for, é impossível por outras razões, que não cabe detalhar aqui. O resultado é que a coleção (classe) de todos os conjuntos não pode ser um conjunto, e o mesmo vale para quase todas as suas subcoleções – e isso é quase a totalidade de todas as coleções que há. Assim a noção de “conjunto”, segundo a própria teoria dos conjuntos, abarca apenas uma parte quantitativamente desprezível (infinitamente pequena) do suposto universo de coleções.

Tudo isso é basicamente tão deselegante e implausível quanto uma teoria pode ser. Não obstante, é o que ergue toda a matemática moderna, cujo sucesso prático (e, em alguns sentidos, também teórico) é certamente inquestionável. Oras, essa é uma situação muito surpreendente. Com todo o sucesso matemático, você esperaria que seus fundamentos filosóficos fossem os melhores possíveis. E ocorre que são os piores!

O que fazer desse conflito?

A esmagadora maioria dos envolvidos, sejam filósofos, sejam matemáticos, parece fingir que o problema simplesmente não existe. De fato a maioria possivelmente acredita que não há conflito: que os fortes indícios, espalhados por toda a parte, são meras ilusões oriundas de intuições vacilantes dos estudantes. Em introduções ou textos didáticos, de fato, o que é nítido é um esforço deliberado para maquiar o problema. Mas há quem ataque a questão de frente, e é fascinante vê-los em ação. Aqui está ninguém menos que o grande filósofo David fucking Lewis, reconhecendo a estranheza e, no entanto, defendendo descaradamente que se deve ter na prática dos matemáticos:

CREDO

Conjuntos unitários [doravante, singletons] e, portanto, todas as classes [o que chamei de coleções, acima], são profundamente misteriosos. Mistérios são um fardo dispendioso. Nós não deveríamos, portanto, abandonar o fardo abandonando as classes? Se classes não existem, nós não precisamos nos perturbar com sua natureza misteriosa. Se renunciarmos às classes, estaremos livres dos conjuntos.

Não; pois a teoria dos conjuntos impregna toda a matemática moderna. Alguns ramos e modelos especiais da matemática talvez possam abrir mão dela, mas a maior parte da matemática está imersa até o pescoço na teoria dos conjuntos. Se não há classes, então não há cortes de Dedekind, não há homeomorfismos, não há reticulados completos, não há distribuições de probabilidade, …. Pois todas essas coisas são definidas, de forma standard, como um ou outro tipo de classe. Se não há classes, então nossos livros didáticos de matemática são trabalhos de ficção, cheios de falsos ‘teoremas’. Renunciar a classes significa rejeitar a matemática. Isso não vai funcionar. Matemática é uma busca constante e estabelecida. Filosofia é tão insegura quanto uma busca pode ser. Rejeitar a matemática por razões filosóficas seria absurdo. Se nós filósofos estamos extremamente intrigados com as classes que constituem a realidade matemática, isso é problema nosso. Nós não deveríamos esperar que a matemática desaparecesse só para fazer a nossa vida mais fácil. Mesmo se nós rejeitamos a matemática de forma gentil – explicando como ela pode ser uma ficção útil, ‘boa sem ser verdadeira’ – nós ainda a rejeitamos, e isso ainda é absurdo. Mesmo se nos seguramos em alguns fragmentos mutilados da matemática que podem ser reconstruídos sem classes, se nós rejeitamos a maior parte da matemática isso ainda é absurdo.

Isso não é um argumento, eu sei. Em vez disso, estou inclinado a rir quando penso em quão presunçoso seria rejeitar a matemática por razões filosóficas. O quanto você apreciaria a tarefa de dizer aos matemáticos que eles precisam mudar suas práticas, e abjurar incontáveis erros, agora que a filosofia descobriu que não existem classes? Você é capaz de dizer a eles, com a cara lavada, que devem seguir o argumento filosófico onde quer que o argumento leve? Se eles desafiarem as suas credenciais, você irá se vangloriar das outras grandes descobertas da filosofia: que o movimento é impossível, que um Ser do qual nenhum maior pode ser concebido não pode ser pensado como inexistindo, que é impensável que qualquer coisa exista fora da mente, que o tempo é irreal, que nenhuma teoria jamais foi tornada provável pelas evidências (mas, por outro lado, que não é possível uma teoria empiricamente ideal ser falsa), que é uma questão científica amplamente aberta se alguém alguma vez acreditou em algo, e por aí vai, e por aí vai, ad nauseam?

Não eu! E assim eu tenho que dizer, rangendo os dentes, que de algum modo, eu não sei como, nós de fato entendemos o que significa falar de singletons. E de algum modo nós sabemos que objetos ordinários possuem singletons, e singletons possuem singletons, e que junções de singletons algumas vezes possuem singletons. Nós sabemos até mesmo que singletons constituem a parte predominante da Realidade.

— David Lewis, Parts of Classes (1991), p. 57-59

Por sua vez, o já citado Mayberry, embora recomendando a teoria dos conjuntos à sua própria maneira heterodoxa (um resenhista disse, do livro dele, que era ao mesmo tempo revolucionário e reacionário), bem nos recomenda a direção contrária: “Infelizmente, a complacência entre os matemáticos (…) sobre os fundamentos de sua disciplina tem tido um efeito deletério sobre a filosofia. Fazendo deferência à competência técnica de seus colegas matemáticos, filósofos por vezes não são suficientemente críticos do consenso estabelecido [received opinions] mesmo quando esse consenso é patentemente absurdo” (The Foundations of Mathematics in the Theory of Sets, 2001, p. xiii).

Como você pode adivinhar, eu estou com Mayberry. Eu simplesmente discordo de Lewis capitular à autoridade matemática. Ele próprio reconhece que “isso não é um argumento”; pois bem, então não é argumento. Se você combate a filosofia, você perde, simples assim. Todas as razões apontam para o fato de a noção de “conjunto” ser uma quimera conceitual e, sim, se ela cai, cai junto o edifício da matemática moderna. So be it. Um filósofo que se preze deve, sim, seguir o argumento aonde ele levar – e citar famosos casos de conclusões a que nenhum argumento de fato levou, por inspirado e divertido que seja, não faz nada para enfraquecer a força das razões presentes. Não estou dizendo que os matemáticos devem abandonar seus métodos; certos ou errados, de todo modo eles nunca farão isso sem diretas razões técnicas e matemáticas – é o único tipo de razões que eles respeitam, afinal; estou dizendo que, cedo ou tarde, é inevitável que tais razões concretas se imponham até pra eles. As razões filosóficas não existem num limbo delirante: elas inevitavelmente descem ao chão. A longo prazo, a razão vence. Mas quem já pode ver isso, sem surpresas, é o filósofo – se este trabalha direito, enxergar desde seu ponto de vantagem, como um faroleiro, a verdade de outro modo pouco óbvia, é justamente o que se espera.

Lewis mesmo enxergou a verdade, mas a abjurou: “tenhamos fé nos ensinamentos” é como ele abre o capítulo seguinte. Mas fé continua sendo o que Nietzsche já dizia ser: justamente, “não querer saber o que é verdade”.

Não é tarefa do filósofo justificar o mainstream.
A verdade é a única subversão.
Just to do your thing is the hardest thing to do… ♫ ♪

Esse foi claramente o fim do texto, e o que vou dizer a seguir deveria de algum modo vir no meio, mas não houve encaixe estético (gosto de pensar que faltaram dimensões para encaixar as ideias nas devidas posições). Então que seja: escrevo o meio depois do fim! E é o seguinte: alguém poderia dizer que, tudo bem, a teoria dos conjuntos é mesmo estranha e, em algum sentido, “filosoficamente errada”. Mas e daí? A matemática funciona, não funciona? Se a teoria dos conjuntos está servindo tão bem na prática, o resto é secundário.

Mas essa reação significa basicamente ignorar o problema levantado: se a teoria dos conjuntos é um fundamento filosófico tão ruim, quem disse que a matemática por ela erguida é de fato correta? Muitos responderiam a isso dizendo que, simplesmente, a matemática conjuntista é correta por definição: que “matemática” se trata de seja-o-que-for que se possa demonstrar no framework da teoria dos conjuntos. Espero que as bizarrices conjuntistas enfraqueçam a tentação de dar essa resposta. Mas em vez de discutir, direi apenas o que penso aqui: matemática, em última instância, é a matemática oriunda de nossas poderosas intuições sobre quantidades abstratas – i. e., números. São esses os fatos que se impõem objetivamente. Se algum formalismo acarretar que 27 + 3 = 31, ou que √49 = 8, pior para o formalismo: não vamos revisar nossas intuições. E, de fato, várias considerações intuitivas parecem levar à desconfiança de que o infinito de fato funcione de outro modo – isso, no entanto, é tema para outros textos.

Falando mais concretamente, a noção conjuntista de infinito pode muito bem ser aquilo que gera paradoxos, seja na física quântica, seja na relatividade geral, e pode bem estar por trás da incompatibilidade entre as duas teorias. Se isto está correto, definitivamente a matemática moderna não é correta: é errada a ponto de estar bloqueando uma visão científica unificada do Universo e, com ela, sabe-se lá que possibilidades tecnológicas espetaculares – de energia inesgotável a viagens no tempo.

Cinema do Mal

maio 19, 2013

Ocorreu de eu fazer algumas maratonas de filmes de terror, suspense, thriller, sobrenatural, temática snuff (sobre filmar torturas e assassinatos reais), found footage (estilo câmera na mão) e extrema violência — enfim, filmes para roer as unhas, perturbar e chocar. Diga-se o que se disser dos filmes barra-pesada, a maioria te prende do início ao fim. Enfim, depois de acumular tantos filmes, foi rápido e natural fazer as seguintes recomendações a quem mais se interessar (e você, que poderá deduzir o que me agrada dos comentários abaixo, não hesite em me sugerir outros filmes). Eis uma lista, dos piores ao melhores que vi:

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atrociousO Misterioso Assassinato de uma Família
(Atrocious, 2010, Fernando B. Luna)
Nota: 2

Com orçamento aparente de 230 reais, a proposta “tudo pelo realismo” desse filme resulta num fracasso monumental. O filme mais breve-e-interminável que já vi: 70 minutos quase que só de mata embaçada e tremida — extremamente tremida! — filmada pelo que parecem ser adolescentes com mal de Parkinson. Atuações as piores possíveis. Em 95% do tempo, absolutamente nada acontece. Em meio à sonolência e tédio, consegue gerar algum suspense, alguma tensão, mas está muito longe de valer à pena. Tem um final que até seria um pouco interessante se você não estivesse irritadíssimo (além do mais, há quem descubra a “surpresa” logo de cara). Por outro lado, a estratégia realista extremista resultou em alguma coisa: nunca vi tanta gente ingênua acreditando, pra valer, que o filme se trata de realidade (o que é afirmado na capa); obviamente, estas são as pessoas que tendem a elogiar o filme.

Expectativa Correta: verei uma versão de 6ª categoria de A Bruxa de Blair.

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cabinfeverA Cabana do Inferno
(Cabin Fever, 2002, Eli Roth)
Nota: 3,5

Inevitavelmente vi alguns filmes de adolescentes indo fazer farra e sexo em alguma cabana isolada, e se dando mal (no caso aqui, graças a um vírus bastante agressivo). Este filme é o pior deles, por ser ultra genérico. Tudo é completamente previsível. E se desenrola de forma lenta, maçante. Os personagens são tipica e irritantemente estúpidos. Algumas pessoas elogiam o humor do filme: talvez funcione pra você, mas o achei deslocado e tosco. O que tem de quase bom é um início promissor e uma ou outra cena de força razoável. O final é desastroso. Por que o assisti? Após ver o clássico perturbador O Albergue (chegarei nele), de Eli Roth, vi muitas pessoas elogiarem o trabalho inicial do diretor, que é este aqui. Uma decepção total.

Expectativa Correta: verei um ultra-clichê “terror na cabana” metido a engraçaralho.

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houseofwaxA Casa de Cera
(House of Wax, 2005, Jaume Collet-Serra)
Nota: 4,5

Essencialmente igual ao filme anterior (jovens + farra + lugar remoto + estupidez), este aqui tem uma ou outra vantagem: premissa bem mais interessante (pessoas tornadas bonecos de cera enquanto vivas — em vez de vírus genérico), mas desperdiçada; suspense um pouco melhor (não que seja grande coisa); a casa de cera é ótima; pelo menos uma situação perturbadora (se bem que enfraquecida pelo fato de o filme ser ruim). Consegue não ser chato a maior parte do tempo, ao menos. Mas inclui vilões muito burros, atuações caricaturais e umas tantas mortes ridículas. Dei excessivo crédito à boa premissa do filme, que foi mal utilizada. Não vale à pena perder esses 90 minutos, afinal.

Expectativa Correta: verei poucas coisas marcantes, misturadas com um irritante desperdício de boas ideias.

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bennysvideoO Vídeo de Benny
(Benny’s Video, 1992, Michael Haneke)
Nota: 5

Eis um filme promissor: primeiro trabalho de Michael Haneke (do sensacional Violência Gratuita), seria um filme de found footage anterior a A Bruxa de Blair. Mas nem é. É apenas um adolescente psicopata que, meio à toa, mata uma amiga em casa, enquanto está filmando. “Queria ver como é”, dirá depois. O resto do filme é a intriga familiar, envolvendo seus pais, sobre como lidar com o problema – o filho psicopata, a polícia, o corpo da garota, etc. Apesar do final interessante, o filme não se salva. Não pra mim. É chatíssimo, daquele tipo de cinema europeu “pretensiosamente silencioso” do pior tipo. É preciso tentar deduzir as motivações dos personagens através de comportamentos e expressões completamente vagos; não há nada para deduzir, afinal, é tudo enrolação pedante. Ótimo pra turma do “me engana que eu gosto”. Quereria não ter perdido meu tempo.

Expectativa Correta: verei um filme chatíssimo com um bom final que não compensa.

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homemovieFilme Caseiro
(Home Movie, 2008, Christopher Denham)
Nota: 5,5

Autêntico found footage, esse é um filme abaixo do razoável que eu só recomendaria para quem é extremely extreme fan do estilo “bruxa de blair” de cinema. A desculpa para a existência das filmagens caseiras, aqui, são as datas especiais do ano: Natal, Ano Novo, Páscoa, etc. Trata-se de uma família — pai, mãe, menino, menina — que, obviamente, decidiu ir morar num lugar completamente isolado. E que seria muito feliz se suas crianças não fossem completamente sinistras. Volta e meia, agindo como autistas, matam insetos ou animais. E obviamente a coisa vai piorando. Em pelo menos dois momentos, o filme consegue tornar realmente intrigante a natureza dessas crianças, mas fica por isso. O suposto “algo mais” que o filme se propõe ter (e que algumas pessoas elogiaram) é o conflito Fé x Razão: pois o pai é um pastor religioso e a mãe, psicanalista ateísta. Mas essa discussão é completamente superficial no filme, e só atrapalha. Ademais, o filme carrega mais no suspense e sugestão do que no choque explícito (ao contrário do que faria pensar sua primeira cena). Muitas vezes chato, e com um final genérico, além de mal atuado, o filme é um grande desperdício de potencial.

Expectativa Correta: até ficarei intrigado, mas frustrado pela direção chata e óbvia que a história toma.

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collectorO Colecionador de Corpos
(The Collector, 2009, Marcus Dunstan)
Nota: 6

Tinha lido duas coisas: que a ideia inicial deste filme seria contar o passado do Jigsaw, de Jogos Mortais (depois, a ideia mudou), e que era “um filme que te prendia do início ao fim” (o maior argumento para me convencer a assistir algo). Mas nesse caso era mentira. O que temos aqui é a tentativa de um novo serial killer, com um modus operandi interessante, mas é tudo absurdo demais: encher uma casa de armadilhas (generic-Saw-style) para que a família, assim que acorde, vá se ferrando bonito; e, após torturar uns e outros, escolher um deles para levar (pois o vilão coleciona pessoas!) e matar os restantes. Por coincidência, um ladrão muito legal invade a casa justo num momento desses. E torceremos por ele, contra o Collector, até o fim do filme. O ruim é que tudo, no filme, é de segunda categoria: atuações, armadilhas, sequências estratégicas, torturas. E sobretudo o vilão: um mascarado grandalhão bem sem graça, espécie de Bane pobre. De bom, a esperteza e altruísmo do ladrão; e alguns momentos eficazes de tensão. O final me agradou (o que é a razão de existir o parágrafo seguinte).

Aí tem O Colecionador de Corpos 2 (The Collection, 2012), mesmo diretor, que eu quis ver logo em seguida apesar de tudo. Começa satisfatório (dado o final do filme anterior) e avança para uma sequência que se arrisca entre o exagerado e o espetacular. Eu gostei, teve quem achou clássico para o gênero, mas pode soar apenas absurdo. Seja como for, quando o filme realmente começa fica rapidamente chato e desinteressante. E… não consegui ter paciência para continuar assistindo.

Expectativa Correta: verei um vilão sem sal, criando situações implausíveis, mas me distrairei um pouco.

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noroiNoroi: The Curse
(Noroi, 2005, Koji Shiraishi)
Nota: 6,2

Espécie de Arquivo X japonês, mas no estilo found footage, o filme mostra gravações de um investigador do paranormal, Masafumi Kobayashi, que lentamente (muito lentamente, err…) tomam a direção de uma investigação sobre uma espécie de ritual satânico. Embora sempre lento, o filme começa bem e instigante, mas vai piorando: personagens caricatos e situações muito implausíveis (além de repetitivas) vão sendo reveladas. Lá pelas tantas, tudo se encaminha de forma torturantemente previsível. Como as atuações também não são nada demais, o filme é em geral fraco — soa quase amador. Mas é interessante, apesar de tudo, seguir a investigação sem firulas de Kobayashi: ele vai onde precisa ir, conversa com quem precisa conversar, procura as informações certas. O fio de curiosidade, apesar da chatice e enrolação, não se perde ao longo do filme. Mas é apenas isso. Só que, por se tratar de um filme japonês, muita gente o elogia além da conta — pela simples razão de que soa cool elogiar qualquer filme que não seja americano. Bla. De passagem, vale mencionar outra vantagem aqui: é found footage, mas não tem aquela constante e irritante câmera tremida.

Expectativa Correta: verei uma investigação meio Arquivo X interessante, apesar de chatinha e previsível.

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fridaythe13thSexta-Feira 13
(Friday the 13th, 2009, Marcus Nispel)
Nota: 6,5

Sempre achei Jason legal. E queria ver a versão moderna da coisa. Muitos odiaram esse filme, como se fosse uma deturpação do Jason original, mas um comentário que li no Filmow (Gustavo Freitas) resume o que penso: “Tem tudo que os filmes oitentistas tem, só que com roupagem atual, tem peitos, adolescentes burros, vadias, muito sangue, sustos, roteiro sem novidades, cliches e o bom e velho Jason com pano na face e depois com a classica mascara. Não tem o pq odiar este filme se aguentou os 9 anteriores feliz da vida”. E é isso aí. Ênfase no “peitos” — tiveram colhões de fazer apelação sexual pra valer aqui (que é metade do que se quer, num filme desses). Não obstante, o filme poderia facilmente ser melhor. Em particular, há algumas mortes bem ridículas (ex: a moça sob o trapiche, surpreendida com uma flecha vinda de cima, na cabeça). Também deveriam ter mantido o Jason sem correr (e, no entanto, se aproximando daqueles que correm dele, hehe). Contudo há mortes fortes (moça queimada, rapaz com a perna presa, fucking putz), a mitologia do personagem é bem tratada, e os jovens são menos irritantes que o de costume. Aliás, por que alguém gostaria de ver mortes assim mesmo? Porque a adrenalina vai lá em cima. É nossa natureza. E adrenalina é prazer: funciona como na montanha-russa. Enfim, o filme é uma ótima síntese dos três primeiros filmes dos anos 80.

Expectativa Correta: verei todos os clichês legais de Jason, não mais que isso, e tudo bem.

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vileVile
(Vile, 2012, Taylor Sheridan)
Nota: 6,5

Filhote descarado de Jogos Mortais, esse filme funciona bem; provavelmente já é melhor do que Jogos Mortais 2, por exemplo, do qual é quase uma cópia. Mas o “quase” é importante: a diferença da história, aqui, consegue trazer algo novo (não muito, rs). Outra vez, temos pessoas presas dentro de uma casa, precisando passar por torturas. A diferença é que elas precisam torturar umas às outras, e a situação é tal que todas elas concordam com isso e precisam colaborar (embora desesperadas, é claro). Ocorre que acordaram com uma estrutura na nuca, que coletará adrenalina, dopamina e serotonina de seus cérebros — mas tais substâncias só são produzidas sob dor e pânico. Tortura, pois. O grupo tem 24 horas para fazer o contador atingir 100%. Concordam com isso porque, convenientemente, um idiota tentou tirar a estrutura da nuca e morreu. Por que os captores criaram essa situação? “Eles fazem drogas com essas coisas”, especula uma das vítimas. Lá pelas tantas, o grupo concorda que cada um contribuirá com 14% (de tortura) para o mostrador. E passam a sortear a ordem de quem será torturado. É tudo bem angustiante! O filme aproveita as oportunidades óbvias: que ocorre quando chega a vez de uma mulher? Os últimos tentarão/conseguirão ludibriar os primeiros? Quais torturas compensam (enchem o mostrador sem ferrar demais o torturado)? Enfim, dilemas interessantes não faltam. As próprias torturas competem bem com a série Jogos Mortais. Depois de um tempo, o filme degenera num caos, e fica meio ruim. Reviravoltas desnecessárias. Mas termina até legal. Eu veria um segundo.

Expectativa Correta: verei uma semi-cópia razoável de Jogos Mortais 2.

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tesisMorte ao Vivo
(Tesis, 1996, Alejandro Amenábar)
Nota: 6,7

O diretor espanhol Alejandro Amenábar está por trás dos excelentes Mar Adentro, Os Outros e Abre los Ojos (cujo Vanilla Sky é uma versão pior). Então fiquei sabendo que seu primeiro filme era sobre snuff movies (como 8 milímetros, vide meu texto mais abaixo). Então era pedida óbvia na “maratona do mal” que fiz. E o filme é bem bom, como de esperar. Só não é melhor porque, inevitavelmente, é amador em diversos aspectos. Senti quase estar vendo uma novela, em alguns momentos. Mas recomendo: uma estudante de cinema acaba descobrindo um comércio de snuff movies nos bastidores de sua faculdade. E conta com um amigo para investigar a situação. O suspense gerado não é grande coisa, mas vale. Também há uma intriga subjacente, e uma questão sobre confiar em / gostar de pessoas sedutoras… (de fato esse é o ponto alto do filme, a meu ver, entregando reações bastante plausíveis de todos os personagens). Quanto à violência perturbadora, o filme ladra, e ladra até muito bem, mas não morde. Apenas um pouco mais forte do que o próprio 8 milímetros — que, eu li em algum lugar, teria sido inspirado neste aqui. Acaba sendo chato e arrastado em alguns pontos, o que não perdôo, e por isso a nota talvez mais baixa do que o de fato merecido. Se você tem paciência, gostará mais do filme que eu.

Expectativa Correta: verei um suspense legal, que seria bem mais intenso se não parecesse uma novela.

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vhsV/H/S
(V/H/S, 2012, [Nove Diretores!])
Nota: 6,7

Premissa espetacular, realização fraquíssima: um grupo de baderneiros, que filma as próprias badernas (como levantar a blusa de uma mulher na rua), vai invadir uma casa para roubar uma fita (porque alguém os contratou pra isso, presumo). Na casa, encontram um velho morto sentado diante de TVs fora do ar, um videocassete e fitas. O filme é o conteúdo dessas fitas, que alguns ladrões assistem enquanto outros vasculham a casa em busca da fita certa. A peculiaridade é que todas as fitas tem conteúdos bizarros (e vou ficar nessa palavra vaga mesmo), embora completamente não relacionados entre si. A primeira fita acaba sendo a melhor do filme, a meu ver. E o filme vai gradualmente piorando, o que é uma pena. O final é eficaz, mas tem o péssimo defeito de impedir qualquer ótima explicação que pudesse ser dada para aquela situação tão insana! Por que, afinal, existe uma casa com alguém morto que assistia as fitas mais estranhas do mundo? O que adoro nesse filme é a constante sensação de what-the-fuck? que ele proporciona. E rende ótimas surpresas, sustos, cenas violentas, suspense e tensão — só que com muita coisa tosca misturada. Algumas atuações são ótimas, outras ridículas. E se você tem dor de cabeça com câmera tremendo (eu não tenho), fuja. Esse filme é o pior de todos, nesse sentido. Vem a continuação aí. Vou querer ver.

Expectativa Correta: ficarei intrigado e tenso com histórias what-the-fuck? — pena que vão piorando.

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graveencountersFenômenos Paranormais
(Grave Encounters, 2011, The Vicious Brothers)
Nota: 7

Galhofa foda, mas cumpre o que promete e nunca é chato. Está no top 10 de qualquer lista de found footage, com razão. A ideia é ótima: Lance Preston é o apresentador de um reality show de caça-fantasmas e o que assistimos é a gravação não-editada do que seria o episódio 8 do programa — onde obviamente deu merda. O filme tem um peculiar grau de tosquice em que não fica claro se a auto-paródia é voluntária ou involuntária, mas não interessa. O que interessa é que a parte de terror funciona, e as partes toscas são do tipo que dá pra rir delas. Por exemplo, vemos cenas “que deveriam ser cortadas” onde o apresentador revela sequer acreditar em paranormalidade e trata o público como imbecil — mas a atuação é tão ruim que essa tentativa de forçar realismo se torna divertida, de tão tosca. Mas o cerne do filme são mesmo as cenas sinistras, em típica câmera noturna esverdeada… e granulada. Como isso funciona fácil! Além disso, há algumas cenas realmente chocantes (o rato, por exemplo). Lá pelas tantas, os acontecimentos se tornam absurdos, mas isso também é bom. Uma boa definição pro filme: bela mistura de Atividade Paranormal com o final de [REC]. E aí tem a sequência do filme…

Fenômenos Paranormais 2 (Grave Encounters 2, 2012, John Poliquin) merece um 6,5 ou 6,8, o que significa “quase tão bom quanto o primeiro”. Ora, quem procura esse filme (como procurei), quer simplesmente mais do mesmo. E encontra. Demora um pouco pra engrenar, mas engrena bem. E fica ainda mais absurdo do que o primeiro filme, mas você não vai se importar com isso, certo? Desde que o nível de terror aumente um tom, na atmosfera do primeiro filme, tudo bem. Um defeito: aqui a estupidez dos personagens é… simplesmente inacreditável. Engula-se isso. Uma vantagem: adiciona umas tantas informações legais ao universo — eu veria um terceiro filme. E gostei da premissa aqui: como em A Bruxa de Blair 2, o primeiro filme é tratado realmente como um filme, que foi aos cinemas e tudo, dentro do segundo filme. E a questão que surge é: seriam as gravações do primeiro filme reais? Sim, absurdamente, seriam! E isso move a “trama”. Com um final que abraça o absurdo sem pudor, o fato é que a história propriamente louca que está sendo contada… cresce. Descartável, mas divertido.

Expectativa Correta: verei um terror galhofa de velhos truques apelativos, mas eficaz. Será divertido.

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8mm8 Milímetros
(8 mm, 1999, Joel Schumacher)
Nota: 7

Sempre quis ver esse filme e, nessa balada de filmes sinistros, incluindo alguns sobre snuff movies, a hora era essa. Snuff movies, pra quem não sabe, são gravações reais de pessoas sendo propositalmente torturadas e assassinadas, para fins comerciais — como se ver gente morrendo pra valer fosse uma espécie de pornografia para alguns. 8 mm é sobre isso. Pelo que vi, ainda se discute se existem tais coisas no mundo real, ou se não passam de lendas urbanas (parece que ao menos uma onda de snuff movies reais, vitimando mexicanos nos EUA, ocorreu nos anos 70. Medo!). Bem, 8 mm é um bom filme apesar de muitos defeitos — o que já é uma grata surpresa, sendo seu diretor quem é! Mas se podia soar perturbador em 1999, pra quem nunca tinha sequer ouvido falar dos snuff, certamente parece bem mais brando pra quem já viu outros filmes dessa lista aqui (sejam ou não sobre snuff) — ou eu mereceria ouvir, como diz um personagem do filme, “o demônio já mudou você”. Perturbador ou não, 8 mm continua merecidamente sendo referência no tema. E tem seus próprios méritos: o que mais gostei, aqui, é o sucesso com que o filme consegue contrastar a frieza e indiferença de quem tortura e mata uma estranha a sangue frio, com a profunda (sagrada, se algo merece esse adjetivo) ligação sentida por aqueles que amam (ou ao menos se importam humanamente com) a mesma pessoa. E faz esse contraste sem qualquer moralismo, conseguindo ser realmente tocante. Outro mérito é a competência do detetive: vibramos com sua inteligência e perspicácia em diversas situações, e também com sua fibra de caráter (Nicolas Cage está ótimo). De bandeja, nos faz refletir sobre a sempre importante questão: a ilusão consoladora ou a verdade terrível? Infelizmente, sua conclusão nos brinda com vilões demasiado caricatos (mas, paradoxalmente, contradigo que Peter Stormare é sempre bom e aqui não é diferente!) e estúpidos, além de uma vingança bem frustrante.

Expectativa Correta: verei uma história instigante e tocante, que satisfaz apesar de uma parte final fraca.

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cabinwoodsO Segredo da Cabana
(The Cabin in the Woods, 2012, Drew Goddard)
Nota: 7

Mais adolescentes atrás de farra e sexo numa cabana isolada. Mas aqui é super proposital — o que já fica claro desde o início, se bem que de forma intrigante e estranha (mas divertida). Dessa vez, de fato, o título nacional não poderia ser mais adequado. Na parte de terror ultra-genérico que esse filme faz questão de ser, nem faz feio. E então tem a outra parte, quando o filme cresce para outra coisa, grandiosa e muito divertida, sem deixar de ser uma ação razoável também. Simpatizei com o filme. E é muito legal repensá-lo à luz do fim. Fica retrospectivamente mais divertido ainda. Vale um leve spoiler pra quem já viu, mas se você não viu e quer arriscar, tudo bem: o filme é uma explicação engraçada de por que as situações clichês ridículas dos filmes do gênero (jovens em cabanas) ocorrem.

Expectativa Correta: verei uma história surreal, com terror e ação médios, que se revelará algo muito legal.

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sinister[A Entidade]
(Sinister, 2012, Scott Derrickson)
Nota: 7,2

Coloquei em branco o título nacional desse filme porque, ridiculamente, é um spoiler. Esse filme é uma… frustração! Porque começa espetacular e segue brilhante até a exata metade. Brilhante mesmo, nível Se7en! E, de repente, numa cena óbvia, tudo vai por água abaixo. Aí se torna apenas um filme razoável de outro tipo. Mas longe de ser horrível. Vale ver, afinal. Pra começar, temos o sempre ótimo ator Ethan Hawke (Antes do Amanhecer, Gattacca) como um romancista de crimes verdadeiros. Dez anos antes, havia sido celebridade por ajudar a resolver um caso; depois, caiu no ostracismo com livros de pouco sucesso — um até prejudicou certa investigação policial. Nada disso é mostrado, apenas somos brevemente informados. Agora ele se muda, com família e tudo (!), para a casa onde ocorreu um crime assustador (crime que, com quatro mortos e uma criança desaparecida, abre o filme de forma magnífica, diga-se). Ali encontra um baú no sótão, com outros filmes gravados pelo assassino! E então o filme realmente faz jus ao seu título (o original). De roer as unhas. E com sustos de gelar a espinha. Ainda conta com um eficiente drama subjacente do protagonista: até que ponto ele quer resolver o crime ou simplesmente reconquistar a fama perdida? E a que preço? Infelizmente, tal drama acaba simplesmente sendo deixado de lado. E quando o filme piora, não fica péssimo. Recomendo, apesar da frustração inevitável.

Expectativa Correta: verei uma metade espetacular de roer as unhas, e outra metade frustrante nem tão má assim.

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vacancyTemos Vagas
(Vacancy, 2007, Nimród Antal)
Nota: 7,5

Provavelmente o melhor thriller — leia-se: tensão e nervosismo o tempo todo — que eu já vi. E é melhor que você o veja sem saber de nada (não leia nem a sinopse!). Mas, para sentir de que espécie de coisa se trata, basta saber que o filme começa com um casal tomando um desvio na estrada, em plena madrugada, e tem problemas no carro. E aí tem um hotel por perto. Pra esse tipo de filme, as atuações estão acima da média. E é sensacional que os personagens sejam inteligentes, em vez de estúpidos. Mas eu gostei mais do filme do que a maioria das pessoas, pelo que vi. Reclamam que é cheio de furos, mas quando se pensa direito, nem é. Certas ocorrências são um pouco implausíveis, mas até isso faz sentido e está longe de ser problemático. Explico pra quem já viu, com spoilers: certamente o casal de protagonistas dá sorte algumas vezes (como encontrar a portaria vazia ou ter os vilões distraídos porque um comprador de filmes apareceu), mas é de esperar que cedo ou tarde os donos do hotel dariam esse azar (já tentaram isso umas 200 vezes, afinal, como vimos no início do segundo filme).

Aí tem a continuação, Temos Vagas 2: A Primeira Diária (Vacancy 2: The First Cut, 2008, Eric Bross), que é muito ruinzinho. Nota 4, distrai e mal. Conta uma história ridícula de como tudo começou. E, dessa vez, os personagens são tipicamente estúpidos. Temos correria maçante, em vez de suspense. Não vale ver.

Expectativa Correta: extremely extreme “fodeu-muito-agora!”.

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poughkeepsieThe Poughkeepsie Tapes
(The Poughkeepsie Tapes, 2007, John Erick Dowdle)
Nota: 7,5

Vale citar a sinopse: “Quando centenas de fitas cassetes, mostrando torturas, assassinatos e desmembramentos, são encontradas em uma casa abandonada, elas revelam uma década do reino de terror de um serial killer e se tornam a mais perturbadora coleção de provas criminais jamais vistas…”. Esse é um pseudo-documentário bem remoto e desconhecido, do tipo que só se acha em listas especializadas de filmes do tipo — o que certamente contribui para que assisti-lo seja perturbador. De fato, altamente perturbador. É realista? Para a maioria das pessoas normais, certamente; já entre os fãs do gênero, pelo que vi, há mesmo quem ache o filme pouco verossímil. A mim, ao menos, convenceu muito: nunca tive sensação tão grande de realismo — exceto por uns poucos momentos, onde o excesso de firula realmente trai a encenação da coisa. Mas isso é até um alívio, já que tudo o mais é tão agressivamente inquietante. Contudo, a inquietação vem muito mais da sugestão que da violência explícita, o que também é um alívio: se o filme realmente mostrasse aquilo que seu brilhante texto te convence de que será mostrado em seguida, seria traumático, isto sim! O.o Sendo como é, você já se sente criminoso só de estar vendo a coisa… Recomendo aos fortes. Acha-se uma legenda não oficial no legendas.tv e o respectivo release (de uns 600 mb) no kat.ph.

Expectativa Correta: ficarei com medo do que será exibido em seguida, o filme inteiro.

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insidiousSobrenatural
(Insidious, 2011, James Wan)
Nota: 8

Não leve muito a sério minha nota 8. Gostei do filme, sobretudo, por um motivo que a maioria não gostou: ele ousa dar algum sentido ao comportamento tipicamente arbitrário do reino sobrenatural. E o faz bem, a meu ver. A reação típica: “o filme se expôs demais, teria sido melhor preservar a sensação de mistério”. Talvez. Mas, por favor, já há toneladas de filmes envolvendo o sobrenatural que “preservam a sensação de mistério”; e, na maioria deles, isso não passa de uma licença para exibir situações assustadoras aleatórias totalmente despropositadas. É bom que exista uma exceção, oras. Além do mais, este filme aqui têm mais três vantagens sobre os filmes típicos: atuações boas; reações de medo plausíveis dos personagens (em vez dos típicos gritos histéricos genéricos); e, mais importante, uma trilha sonora + sonoplastia absolutamente espetacular, de chamar atenção pra si. Estão corretos os que dizem que, aqui, temos os melhores sustos em muito tempo dentro do  gênero. E isso é porque, embora vejamos muitas situações que já vimos por aí, aqui o timing + sonoplastia é perfeito (sério: faz toda a diferença ver o filme com som de qualidade, ou em fones de ouvido, do que vê-lo com som de segunda). Depois o filme muda e, inevitavelmente, troca o ótimo suspense quase que por ação. Mas funciona, ao menos se você está interessado na teoria que o filme conta. E eu estava. Quem diria que o desgastadíssimo tema das casas mal assombradas ainda daria algo?

Expectativa Correta: verei velhos sustos funcionando surpreendentemente bem; e uma teoria-do-além legal.

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mistO Nevoeiro
(The Mist, 2007, Frank Darabont)
Nota: 8,2

Darabont, que já tinha adaptado Stephen King pro cinema com sucesso em À Espera de Um Milagre e Um Sonho de Liberdade, acerta outra vez e agora no gênero terror: O Nevoeiro é um filme, e uma história, pela qual não se dá nada: pessoas presas num supermercado, cercado por uma névoa bizarra que, de algum modo, violenta os que tentam sair — até que o filme se prova, minuto a minuto. É realmente muito bom! Desgraçadamente, é prejudicado por efeitos especiais ruins; mas nem tão prejudicado assim, mostrando que se a história é boa, o visual é secundário. Merecendo ser dito “tenso do início ao fim”, imergindo o espectador numa situação sufocante e cada vez mais intrigante-what-the-fuck?-level, o filme arruma tempo para gerar reflexões sociológicas e psicológicas magníficas, com base nos conflitos que vão surgindo (de forma natural e interessante) entre os personagens. Em particular, uma fanática religiosa torna a situação duas vezes mais ameaçadora. Enfim o filme evolui, revelando e explicando na medida ideal, e conclui de um modo altamente controverso — eu me conto entre os que adoraram o fim. Ainda sobre a questão sociológica, o filme não se limita a ser (realisticamente) pessimista sobre a natureza humana: também coloca frente a frente a atitude racionalista e irracionalista, se posicionando a favor da primeira como deve ser.

Spoiler filosófico (não leia se não viu o filme, sério): algumas pessoas interpretam isso de outro modo, dizendo que a mensagem do filme seria que tanto a Razão quanto a Fé excessivas são prejudiciais, e uma espécie de “caminho do meio” budista seria o ideal; tal interpretação surge da situação final do filme: se tivessem tido um pouco de fé, os racionalistas teriam sido salvos; mas se vendo racionalmente sem saída, se mataram. Não posso negar, faz sentido ler o final assim. E talvez tenha sido mesmo a sutil intenção dos realizadores. O filme não diminuiria por isso, a meu ver, se bem que nesse caso eu passasse a discordar de sua “mensagem”. Seja como for, penso que a intenção dos realizadores foi meramente fazer um final niilista — e, por isso mesmo, a Fé não faz sentido nenhum. E a Razão faz o que pode (“pelo menos, tentamos”). O fato é: se a Fé teria feito diferença ali, teria sido por mera sorte arbitrária — teria sido perfeitamente possível eles terem tido a mesmíssima fé e, graças a isso, morrerem de fome ou parasitados (em vez de morrerem sem dor, com um tiro). Teria sido até mais provável, de fato. Por isso, se a mensagem do filme é essa, é uma mensagem ruim.

Expectativa Correta: verei um incrível equilíbrio entre reflexão, intriga, terror e angústia crescentes.

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hostelO Albergue
(Hostel, 2005, Eli Roth)
Nota: 9

Esse filme é magnífico. Ocorre apenas que é tão pesado, em sua óbvia intenção de funcionar como torture porn, que as pessoas consideram imoral gostar demais desse filme. O que é, por si, outra razão para eu ser fã da obra: ver os críticos, meio sem ter o que dizer contra, condenar moralmente a violência gratuita do filme. E não é gratuita, afinal. Não é por outra razão, a não ser pela força da violência exibida, que o terceiro ato consegue ser um dos arcos mais tensos e emocionantes do cinema: você nunca torcerá tão nervosa e obcecadamente por um personagem! Oras, não posso dar nota baixa para um filme que é tão poderosamente eletrizante. Agora, sim, nos poucos momentos (são, de fato, poucos) em que recai no torture porn, é pra valer. Tipo Jogos Mortais, só que mais realista e intenso — ameaçando doer de verdade em quem está assistindo, e num contexto psicológico bem mais terrível. Não obstante, vale comentar, há quem ache O Albergue leve (!!!): surpreendi-me ao ver um comentar, citando outros filmes de tortura japoneses ultra-realistas, “esses sim, cumprem aquilo que O Albergue apenas prometeu”. De fato (e só tive coragem de ver uns prints, no Google Imagens!). Voltando a O Albergue, assisti à versão do diretor, cujo final me parece bem melhor que o da versão original (que fui saber depois). Mas é o final da versão original que se encaixa com o segundo filme. Que por sinal também é ótimo.

Dou nota 8 para O Albergue — Parte II (Hostel — Part II, 2007, Eli Roth). Apesar de um começo frustrante, de atuações piores e de um final bem ruinzinho, faz o que poucas continuações fazem: engrandece o primeiro filme. É assustadora a estrutura em grande escala revelada aqui (sobretudo por ter um fio de pé na realidade: o diretor e roteirista, Eli Roth, teve a ideia para o primeiro filme justamente ao descobrir coisas similares na vida real! Não tão similares, felizmente.). A psicologia dos “clientes” também é aprofundada, e o perturbador é que faz todo o sentido que existam pessoas assim — quanto mais porque há relação comprovada entre psicopatia e status social! O filme compartilha boa parte da tensão do primeiro, e não fracassa em seu cerne porn torture: talvez seja menos pesado, talvez não (a opinião variará pra cada um), mas a clareza com que entendemos o deleite dos torturadores é chocante (nesse sentido, a cena envolvendo banho de sangue é… foda pra caralho!). O truque barato, para aumentar o choque, é que as infelizes protagonistas agora são mulheres. Bem, o truque barato funciona. Às maravilhas, rs.

Aí ainda tem O Albergue — Parte III (Hostel — Part III, 2011, Scott Spiegel) que, infelizmente, já é uma degeneração dos dois primeiros: o tipo de filme que sai direto em vídeo. Outro diretor, outra atmosfera, alterações ruins no espírito da série. Não merece mais que um 6,5. Mas ainda funciona um pouco e, se você adorou os dois primeiros, esse ainda vale ser visto. Pelo menos, eu achei. Repleto de situações implausíveis e cenas ruins (a pior: insetos computadorizados), ainda consegue ser tenso e evitar a chatice. Ainda consegue nos dar um senso de estar conhecendo um pouco melhor o universo por trás das torturas. Tudo bem uma parte IV, por mim.

Expectativa Correta: filme 1, ficarei desesperado e por fim nervoso como nunca; filme 2, sentirei entrar na mente de psicopatas e ficarei perturbado com a hipótese em larga escala apresentada; filme 3, bla.

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martyrsMártires
(Martyrs, 2008, Pascal Laugier)
Nota: 9,8

Nunca fui fraco para filmes de terror e violência. Ao contrário, sempre que dá faço questão de vê-los sozinho e de madrugada, de preferência com as portas da casa rangendo, que é pra ver se ajuda o filme a me causar algo (certamente ajuda, hehe). Mas esse filme francês aqui, por Lúcifer! Foi o único filme que me deixou realmente com medo e paranoico, assustado com barulhos aleatórios, até horas depois de vê-lo! O filme mais pesado — gráfica e psicologicamente — que já vi. Fiquei grudado na cadeira, de forma torturante, olhos arregalados, do início ao fim. E não bastasse ser um terror tão forte e desesperador, é um filme brilhante, com uma conclusão grandiosa em significado! Pra começar, é realmente aquele cinema de primeira categoria, com atuações plenas, maquiagens perfeitas, sonoplastia genial, etc. Entra-se no filme e não se sai mais, até horas depois de aquilo acabar. E, como vi um crítico comentar, é daqueles filmes que, assim que acaba, você quer rever imediatamente — só que nesse caso não vai fazê-lo, porque o filme é pesado demais. Particularmente, acho a condução da história genial: é incrível como ela se aproveita das terríveis emoções que acabara de despertar para alavancar outras, em seguida, totalmente diferentes mas igualmente terríveis. O timing é perfeito. Ao menos, funcionou perfeitamente comigo. E enquanto você fica preocupado com tantas coisas diferentes, umas são maravilhosamente resolvidas justamente dando lugar a preocupações piores ainda! Enfim, veja. E veja também, de preferência, sem sequer ler a sinopse. Só não veja se realmente detesta filmes fortes — esse aqui consegue ser pesado de todas as maneiras (mas se paga em seu brilhantismo, se é que você vai contar as sequências fortes como algo negativo).

Comentário com Spoiler (não leia se não viu o filme, sério): começando como um aparente sobrenatural típico, o filme já antes nos deixa inquietos psicologicamente por outra razão: quem são as pessoas por trás daquelas torturas tão frias e secas? E nisto já estamos bem cientes do peso insuportável que Lucie, traumatizada, carrega a cada hora de sua existência: um peso psicológico que, logo a seguir, se revelará literalmente enlouquecedor; pois vemos Lucie, 15 anos depois, assassinar a sangue frio uma família “comercial de margarina”. Seriam, supostamente, os responsáveis pelo seu trauma de infância. Mas Lucie está visivelmente louca, perturbada. Até sua amiga — tão leal que chega a intrigar — o percebe. E mal as coisas começam a se encaixar, em meio àquele desespero agressivo, somos alvejados com atordoantes sustos, tensão, revelações brilhantes, insegurança fulminante, além de todo o constante incômodo com a alta violência. Sem mais, tudo muda. O contexto se agiganta em meio a uma impotência aterradora, niilista. Mais desespero. Agressivo, chocante (depois entendemos: baratas!). E o pior é deduzirmos, em meio às angustiantes reviravoltas, que tudo está prestes a ficar indizivelmente pior. E fica! Neste ponto, o filme chega a ser genial: cria uma antecipação terrível pelo pior, e cumpre. Cumpre muito. É outra modalidade de mal-estar ser exposto ao sofrimento lento, continuado e crescente; e em que absolutamente não há esperança de salvação — a não ser por um momento, ilusoriamente, que é para alavancar o impacto da etapa derradeira. No contexto brutal do filme, termos a resposta para “onde eles querem chegar com tudo isso, afinal?” na forma da (nova) protagonista sem pele, mutilada, humanamente destruída para sempre, justamente quando esperávamos “o fim da dor”, é uma das mais fortes doses de melancolia que uma história já me fez beber. Outra vez, toda essa grandiosidade insuportável está a serviço de tornar épica a verdadeira conclusão de sabor religioso do filme. Sabor religioso pra valer, como no pior da Idade Média: aterrador, asfixiante, autoritário, mas dogmático e universal. Exatamente a força capaz de fazer pessoas normais cometerem atrocidades com a consciência tranquila. E a causa não poderia ser (religiosamente) maior: descobrir o que há “no outro mundo”, após a morte. O que ganhamos, ao fim do filme, é voltar a entrar em contato, por um momento, com a importância existencial fundamental da morte. Isso torna o filme algo mais. Pois raramente, por nosso próprio ânimo intelectual, conseguimos nos elevar ao nível adequado de assombro.

Por que o filme não leva um 10? É que o final, quando se pensa nele, não faz literalmente sentido: por que aquela senhora iria se matar sem nada dizer? Se o que escutou era maravilhoso, ela compartilharia com os demais; se era terrível, se matar só aceleraria sua ida a tal inferno (e embora essa alternativa tenha uma lógica pior, o clima das cenas me parece sugerir isso mesmo: que era insuportável pra ela viver com aquilo). Creio que, apesar disto, o final funciona psicologicamente: ficamos na dúvida sobre a verdade, dependentes de nossa própria reflexão pessoal. E devidamente chocados.

Expectativa Correta: ficarei violentamente nervoso e inquieto, de variadas formas, o filme inteiro (e depois dele!).

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LISTA COMPLETA

(incluindo filmes que eu tinha visto antes, mas não resenhei acima)

1Terror em Silent Hill
(Silent Hill, 2006, Christophe Gans)

3,5 A Cabana do Inferno
(Cabin Fever, 2002, Eli Roth)

4Madrugada dos Mortos
(Dawn of the Dead, 2004, Zack Snyder)

4,5 A Casa de Cera
(House of Wax, 2005, Jaume Collet-Serra)

5 O Vídeo de Benny
(Benny’s Video, 1992, Michael Haneke)

5,5 Filme Caseiro
(Home Movie, 2008, Christopher Denham)

6 O Colecionador de Corpos
(The Collector, 2009, Marcus Dunstan)

6,5 Sexta-Feira 13
(Friday the 13th, 2009, Marcus Nispel)

6,5 Vile
(Vile, 2012, Taylor Sheridan)

6,7 Morte ao Vivo
(Tesis, 1996, Alejandro Amenábar)

6,7 V/H/S
(V/H/S, 2012, [Nove Diretores!])

6,9Anticristo
(Antichrist, 2009, Lars Von Trier)

7 Fenômenos Paranormais
(Grave Encounters, 2011, The Vicious Brothers)
      ► 6,5 Fenômenos Paranormais 2
(Grave Encounters 2, 2012, John Poliquin)

7 8 Milímetros
(8 mm, 1999, Joel Schumacher)

7 O Segredo da Cabana
(The Cabin in the Woods, 2012, Drew Goddard)

7Doce Vingança
(I Spit on Your Grave, 2010, Steven R. Monroe)

7O Chamado
(The Ring, 2002, Gore Verbinski)

7,2 [A Entidade]
(Sinister, 2012, Scott Derrickson)

7,3Atividade Paranormal
(Paranormal Activity, 2009, Oren Peli)

7,5 Temos Vagas
(Vacancy, 2007, Nimród Antal)
       ► 4 Temos Vagas 2: A Primeira Diária
          (Vacancy 2: The First Cut, 2008, Eric Bross)

7,5Extermínio
(28 Days Later, 2002, Danny Boyle)

7,5 The Poughkeepsie Tapes
(The Poughkeepsie Tapes, 2007, John Erick Dowdle)

8 Sobrenatural
(Insidious, 2011, James Wan)

8Violência Gratuita
(Funny Games [U.S.], 2007, Michael Haneke)

8,2 O Nevoeiro
(The Mist, 2007, Frank Darabont)

8,5Os Outros
(The Others, 2001, Alejandro Amenábar)

8,7Cloverfield – Monstro
(Cloverfield, 2008, Matt Reeves)

8,7Enterrado Vivo
(Buried, 2010, Rodrigo Cortés)

9 O Albergue
(Hostel, 2005, Eli Roth)
       ► 8 O Albergue — Parte II
(Hostel — Part II, 2007, Eli Roth)
       ► 6,5 O Albergue — Parte III
(Hostel — Part III, 2011, Scott Spiegel)

9 [REC]
([REC], 2008, Jaume Balagueró, Paco Plaza)

9,2Jogos Mortais
(Saw, 2004, James Wan)

9,3Deixa Ela Entrar
(Låt den rätte komma in, 2008, Tomas Alfredson)

9,5A Bruxa de Blair
(The Blair Witch Project, 1999, Daniel Myrick, Eduardo Sánchez)

9,8 Mártires
(Martyrs, 2008, Pascal Laugier)

Filosofia DeLorean!

janeiro 7, 2012

Você conhece as interessantes discussões filosóficas envolvendo a trilogia De Volta Para o Futuro? Por exemplo a (entre os fãs) disputadíssima tese de que, durante o segundo filme, há um momento em que 4 DeLoreans coexistem no ano de 1955 – e toda uma ala de fãs argumenta que, na verdade, só chegamos a ter 3 DeLoreans.

Ou então, também no segundo filme, aquilo que talvez seja uma contradição fatal na trilogia: o fato de o velho vilão Biff Tannen, em 2015, retornar a 1955 para entregar ao jovem Biff Tannen um almanaque com os corretos resultados esportivos até o ano 2000, que o permitirá enriquecer através de apostas, alterando assim o passado – e então chegamos a um 1985 alternativo e sombrio em que a cidade de Hill Valley está aos pedaços, exceto pelo império de Tannen, “o homem mais sortudo da Terra”. O problema é que, aparentemente, segundo as regras da própria trilogia, isto deveria implicar o deseparecimento dos heróis Doc Brown e Marty McFly (então presos em 2015), dado que tiveram seus passados igualmente alterados: Doc Brown não inventou a máquina do tempo, e sim foi internado num manicômio; e Marty estava na Europa. É pior: se a máquina do tempo não foi inventada, o velho Biff Tannen não poderia tê-la usado para encontrar sua versão jovem. Paradoxo! Pelas palavras do próprio doutor Emmett Brown ao longo da trilogia, isto acarretaria o colapso do universo.

A principal comunidade do orkut declara, num tom de orgulho nacionalista, o fato de a saga ser totalmente imune a furos de enredo. E obviamente as defesas dos fãs (que vou chamar de) “perfeitistas” da trilogia, contra a contradição apontada acima, envolvem desde a postulação de universos paralelos (bem como a crucial diferença deste conceito para o de “realidade alternativa”, mencionado no filme) até especulações interessantíssimas sobre qual a verdadeira natureza do Tempo em De Volta Para o Futuro – só que essas visões têm seus próprios problemas e tudo é igualmente bem objetado, é claro, pelos fãs “defeitistas”, hehe. Para apimentar, Robert Zemeckis e Bog Gale (responsáveis pela trilogia), deram uma entrevista sobre o “funcionamento” da saga que, nas sutilezas que deixa em aberto, parece quase calculada para fomentar a especulação! O resultado final parece uma discussão teológica nos moldes da Idade Média, cheia de argumentos fortes misturados com apelações bizarras, com direito a uma Bíblia (a entrevista) sujeita a interpretações diversas.

Toda essa intriga, claro, é um prato cheio na interface entre filosofia do tempo (de dar mil vertigens por si só) e filosofia da ficção (o que vale na hora de saber a verdade sobre uma obra de ficção? Acréscimos do autor contam, ou só a obra em si é o “material empírico” de investigação?). E uma análise aprofundada, aqui, não precisaria ser só um sequestro da filosofia pelo entretenimento (se bem que isso bastaria, hehe). Quem sabe quais boas e mesmo cruciais ideias a análise lógica do tempo fictício da trilogia – seja ele inconsistente ou não – pode fornecer? Eu, pelo menos, sou bem entusiasta desse tipo de abordagem. Na verdade, considerando o quanto é potencialmente limitadora a tradição filosófica, isto é, o enquadramento mais ou menos consensual (e talvez aprisionador) em que cada geração debate as ideias, é provavelmente preciosa qualquer elaboração intelectual esmerada que tenha partido de não-filósofos – sejam o que forem, eles são livres de preconceitos. E o tempo de De Volta Para o Futuro, especialmente, foi cuidadosamente pensado pelos seus criadores. Creio ser uma matéria-prima excelente.

Quanto aos 4 DeLoreans, quem tem a trilogia fresca na memória pode me acompanhar… Estamos em 1955. É o final do segundo filme, quando o DeLorean voador do Doc Brown é acidentalmente atingido por um raio e vai parar no Velho-Oeste, em 1885, deixando Marty preso em 1955 sem máquina do tempo. Neste ponto, vemos Marty receber uma carta redigida há 70 anos pelo mesmo Doc Brown que acabara de desaparecer no céu. O que a carta informa? Que o DeLorean (o mesmo que acabara de ser atingido pelo raio e foi pra 1885) ficou essas sete décadas escondido em uma mina. É com ele que Marty poderá, enfim, retornar para sua verdadeira época, 1985. Mas para consertar esse carro, abandonado há 70 anos, Marty precisará da ajuda do Doc Brown jovem (digo, menos velho, rs) de 1955. E onde ele está? Despachando o outro DeLorean que, no final do primeiro filme, vemos retornar para 1985 pela primeira vez. Por fim, no contexto da história, é o mesmo dia em que o velho Biff Tannen entregou o almanaque para o jovem Biff Tannen – então também este DeLorean está por aí (antes de retornar a 2015 e ser recuperado pelos heróis, daí ir pra 1985 e ver Hill Valley dominada por Biff e, por fim, retornar a 1955 para consertar a merda e, acidentalmente, ir parar em 1885 e ficar enterrado por 70 anos até 1955 outra vez… fuck yea.)

Em resumo, os quatro DeLoreans coexistindo neste dia de 1955 seriam esses:

1) Aquele que vemos no primeiro filme, que vai para 1955 quando Marty foge dos Líbios e retorna para 1985 através do raio da Torre do Relógio.

2) O utilizado pelo velho Biff Tannen, saído de 2015, para fazer com que o jovem Tannen enriqueça.

3) O que retorna a 1955 exatamente para evitar a ação do velho Biff Tannen, acima – e que acidentalmente vai para 1885, após ser atingido por um raio.

4) O que, chegado acidentalmente a 1885, ficou 70 anos enterrado numa caverna até ser desenterrado por Marty.

Antes de dizer o que há possivelmente de errado com a tese, comento que a questão da identidade do DeLorean, supostamente o mesmo e quatro carros diferentes (Santíssima Quadrindade, hehe) em 1955, é um ponto interessante por si só.

O problema é o seguinte: num certo sentido, o DeLorean 4 só surge “após” o DeLorean 3 ser atingido pelo raio e desaparecer.

Reflita sobre isso. Perceba que intrigante!

Enquanto o DeLorean 3 paira no céu, antes de ser atingido pelo raio e ir parar em 1885, não há nenhum DeLorean 4 enterrado há 70 anos numa caverna de Hill Valley. Este passa a “ter estado enterrado nos últimos 70 anos” apenas depois que o DeLorean 3 desaparece. Daí que só chegam a coexistir três DeLoreans, de fato. Quer dizer, pelo menos a princípio. O caso é que, uma vez tendo ocorrido de o DeLorean 3 ser atingido pelo raio, isto outra vez muda o passado e, consequentemente, muda o presente (1955). Então a história “oficial” e “atemporal” do Universo passa a ser que, naquele dia de 1955, havia sim um DeLorean enterrado na caverna há 70 anos, precisamente porque sua contraparte (3) estava prestes a ser atingida por um raio!

Isto, claro, nos joga para uma noção de “meta-tempo”, um tempo de ordem superior a partir do qual podemos analisar aquele dia de 1955: “antes” só 3 DeLoreans coexistiam e “depois” – por causa do terceiro DeLorean alterar o passado e, logo, o próprio presente em que estava – 4 DeLoreans passaram a coexistir.

O mais próximo de um consenso a que os fãs chegam é assumir a seguinte tese (bastante plausível, aliás): de fato 4 DeLoreans coexistiram do ponto de vista “panorâmico” e “concluído” de toda a trilogia De Volta Para o Futuro, no entanto essa linha “final” do tempo não é exibida nos filmes – o que vemos, em lugar dela, é a linha de tempo anterior ao DeLorean 3 ir a 1885 alterar o passado. O que vemos no segundo filme, portanto, é a versão em que apenas 3 DeLoreans coexistiram. E essa versão é alterada assim que vemos, no final do segundo filme, o DeLorean 3 desaparecer no céu – veja que louco: passa a ser verdade que, segundos antes, 4 DeLoreans coexistiam; mas isto ainda não era verdade na versão de “poucos segundos antes” em que estávamos.

Isso, claro, não satisfaz a todos. Quem disse que o passado já não estava “alterado” mesmo na linha de tempo que o filme mostra? Por que já não havia um DeLoren 4 enterrado, se o DeLorean 3 de fato estava prestes a retornar a 1885? Aí, claro, há toda outra linha de argumentação sobre a lógica interna da trilogia – se fosse assim, por exemplo, teríamos um segundo Marty no baile desde o primeiro filme! Mas aí há quem ouse dizer que, sim, já havia – apenas a câmera nunca o mostrava (ou até o mostrava “subliminarmente” segundo certos paranoicos!). Era mesmo essa a intenção dos criadores? E isso faz diferença? Será que deveríamos analisar os ângulos do baile, entre o primeiro e o segundo filme, para talvez provar que o segundo Marty deveria aparecer em certo local vazio do primeiro filme? E isso contaria ou seria descartado como mero “erro de continuidade das filmagens”? Obviamente, a controvérsia é estritamente infinita, hehe…

Podemos, contudo, tentar formar alguma imagem coerente e plausível. Talvez seja possível. E, se não for, o exercício filosófico é magnífico por si.

*****

Haveria, é claro, muito mais a dizer de interessante sobre as complexidades da trilogia, em interface com a filosofia do tempo e da ficção. Por exemplo, a ideia estranha (e que parece implicar um meta-tempo) de que as mudanças no passado alteram o presente e o futuro não de forma “instantânea”, mas gradual, como numa onda de propagação – isto tanto está implícito com as fotos onde as pessoas vão desaparecendo gradualmente, quando explícito na mencionada entrevista. Outro ponto é se a mudança do passado gera universos paralelos, ou simplesmente muda o bloco único de espaço-tempo: a preferência é do segundo caso, por outros tantos motivos. Talvez eu me convença, em algum momento, de que vale a pena fazer um modesto “tratado” sobre tudo isso. Pelo menos eu e os demais fãs da trilogia nos divertiríamos. 🙂

Cotidiano Paralelo

setembro 1, 2011

Esse texto singelo é uma justa homenagem a uma pessoa que eu nunca amei tanto quanto agora: Lauro Edison, hehe. Algumas poucas pessoas, em especial uma, sabem o quanto é oportuno que eu me sinta assim justo… agora! =D

“Nunca tenha medo de arriscar, de arriscar! Eu já falei a você sobre o Equus, não falei? Aquele doutor, Dr. Dysart, com quem eu muito me identifiquei… Viu que era melhor se arriscar na loucura e cegar cavalos com espetos de metal, do que ser seguro e convencional e monótono.”

[rpg] Mago ● A Ascensão
Christopher Durang

Era pra eu ter dormido umas 2 da madrugada. Um lapso, bem mais que um lapso aliás (ela sabe), e fui dormir às 6! Devia ter acordado 11 da manhã, acordei 4 da tarde. Falha! O cotidiano esmerado, estudado, planejado, outra vez saiu completamente dos trilhos. Como corrigir a rota? Antigamente, e não muito, isso levava até um mês pra corrigir. Agora precisa levar um dia no máximo. Pra dormir mais cedo, só uma solução forçada: duas latas de cerveja na hora certa. Funcionou bem, e dormi às 4 da manhã – pela natureza, teria ido dormir às 8.

Mas álcool tem consequências óbvias na manhã seguinte: depressão irracional, apatia, cérebro derretido, tédio de pré-adolescente. Ainda bem: sou um robô previsível e tenho o manual de instruções. Solução, desta feita, é outra: modafinil e muita cafeína, mais um energético qualquer. 45 minutos. Parece que tenho 18 anos. O fígado ou os rins vão cobrar caro demais isso um dia? Não necessariamente. Também estou ligado e me prevenindo. Fato: estou pronto para o dia. Cores de aurora grega pra onde olho. E estarei melhor ainda a seguir: 25 minutos de esteira, pesos aumentados na academia. Nem dói, é desafiador e estimulante – modafinil faz mágica. Uma gostosa de rabo impossível entra na academia e, num lapso instintivo, supera a mulher que amo. Dura uns 10 segundos. Impossível controlar, os homens e as mulheres espertas o sabem. Os afetos são sagrados, a natureza é vulgar, hehe. Eu amo essa sensação. Note como o detalhe marcou meu dia. “Homens!”, se conforma a outra espécie. Obviamente o instinto não nubla minha razão, nem mesmo durante os 10 segundos magníficos. Talvez é disso que eu goste: de estar à frente de minha biologia. Salve Dawkins. Talvez não seja suficiente pra ela. Então que se foda ela, hehe. Aparentemente ninguém está a salvo de burrices pontuais, nem os melhores. E, como sempre, burrice = tragédia. Salve Tyler Durden.

Está frio. Sair da academia acabaria em choque térmico. E gripo fácil. Quase esgotado, tenho uma decisão simples a tomar: voltar correndo. Assim a temperatura corporal se mantém apesar do frio. E os 9 minutos se tornam 1 minuto e meio, o que é um lindo bônus pelo esforço. Cansa? Sim, mas como posso sentir o cansaço, tão dopado pela felicidade artificial do modafinil e da esteira? Impossível. A resistência à dor vai ao máximo. Chego em casa ofegante. Proteínas, ferro, mielina e vitaminas já me aguardam estrategicamente. Tomo um bom banho. Esse texto vinha se escrevendo na minha cabeça desde que as drogas fizeram efeito. Aqui estou eu.

Eu obrigo esse organismo degenerado de 29 anos a ter 18 outra vez.
O cérebro acompanha. Fuck yea.

Agora, não pleno, mas de certo modo melhor que isso: sem precisar estar pleno, voltarei a estudar Cálculo.
Imune a tudo o que eu não controlo (i. e., a estupidez alheia; alheias).

Pra manter esse estado vigoroso, é preciso matar um leão por dia.
Mas cada dia é mais fácil matá-lo.

“Que nosso fogo interno esteja ao máximo, para esquentar a regra ao rubro e modificá-la! Que nossa realidade interior seja tão forte que corrija a realidade exterior! E que nossas paixões sejam devorantes, mas que tenhamos um apetite de viver ainda maior, para devorá-las!”

– As paixões segundo Dali,
Louis Pauwels e Salvador Dali

Eu sou forte. Você é?
Seja quem for, seja. Aprenda a ser.
Eu sei que parece impossível. Eu digo, você está iludido.
“Evolua, e deixe os pedaços caírem onde tiverem que cair.”

Bata forte, porque a vida é surda.
– Chumbawamba

Loucura Infinita

junho 18, 2011

Fiquei devendo esse post sobre o “Argumento Diagonal de (Georg) Cantor”, algo aparentemente sisudo mas na verdade chocante, quando falei do infinito dois posts atrás. Para simplificar, excluirei números negativos da explicação. E escreverei as decimais usando ponto, em vez de vírgula, para não confundir com as vírgulas do texto.

O que você verá a seguir é a explicação de por que existem mais números entre 0 e 1 (números “complicados” como 0.5, 0.222, 0.36146, 0.62626262…, 0.172837846…) do que todos os números “simples” como 1, 2, 6 , 10, 42, 339, 1777326, etc. E por que eu tenho a desconfiança herética de que tal explicação está errada (“herética” é eufemismo… minha desconfiança é considerada ridícula por qualquer especialista).

Claro que escrevi de um modo que tentasse impressionar até o mais leigo em matemática. O que chamei de números “simples”, na verdade, é o conjunto dos números naturais, simbolizado por lN e formado pela série 1, 2, 3, 4, 5… ao infinito. E o que chamei de números “complicados” é o conjunto dos números reais, simbolizado por lR e incluindo, além de todos os números naturais, também números “quebrados” como 2.5 ou pi, que é “3.14159… e nunca acaba”. Só observe que, aqui, “2.5” e “3.14159…” não servem, pois são maiores que 1, e só vou falar dos números reais entre 0 e 1, como eu disse. Não que haja algo especial entre 0 e 1 – serviria entre zero e meio, entre 1 e 2, entre 4 e 7, entre 344 e 900; serviriam inclusive todos os números reais. Simplesmente, precisamos de algum foco, e minha explicação será mais fácil com o exemplo do intervalo entre 0 e 1.

A ideia inicial de Georg Cantor, matemático que revolucionou a concepção do infinito em fins do século XIX, é que dois conjuntos possuem o mesmo tamanho se seus elementos puderem ser dispostos em duplas, sem que sobre nenhum elemento sem par. É o que se chama de “correspondência um-a-um”. Em qualquer exemplo finito, isto é óbvio: se tenho uma caixa de maçãs e um grupo de pessoas, e cada pessoa fica exatamente com uma maçã, sem sobrar nenhuma maçã sem dono, e nenhuma pessoa sem maçã, isto prova que a quantidade de pessoas e de maçãs é a mesma – mesmo que não saibamos que quantidade é essa.

Cantor aplicou a mesma ideia a conjuntos infinitos. Note as duplas a seguir: de um lado, todos os números naturais (lN); de outro, apenas números naturais pares (P):

lN <—–> P

1 <—–> 2
2
<—–> 4
3
<—–> 6

4 <—–> 8
5 <—–> 10
ao infinito.

Como para cada número natural há um e somente um número par correspondente, a tal correspondência um-a-um, então os dois conjuntos – por incrível que pareça – possuem o mesmo tamanho. Exatamente como oito fatias de pizza para oito pessoas.

Mas isto não ocorre entre números números naturais e números reais – nem mesmo considerando apenas os números reais que há entre 0 e 1.

Cantor mostra isto do seguinte modo: imagine o contrário, isto é, imagine que você pudesse fazer correspondência um-a-um entre números naturais e números reais entre 0 e 1 (doravante, “números reais entre 0 e 1” será abreviado para “números reais”). Isto significaria que, para cada número natural, poderíamos associar um número real, sem que sobrasse número algum sem correspondente, em qualquer grupo. Por exemplo, o número “1” seria associado com “0.75629…“; o número “2” com “0.00321…“; “3” com “0.91526…“, e assim por diante, ao infinito, sem sobrar número nenhum (já vou explicar por que coloquei os reais fora de ordem). Mas isto é chocantemente impossível – ou assim parece concluir o argumento de Cantor (essa é minha ressalva ridícula, ignore).

Detalhe: você certamente notou que coloquei os números reais fora de ordem acima. Sim, eu os embaralhei. É mais fácil explicar assim. E, na verdade, não dá pra colocá-los em ordem! Depois de um número real qualquer existem infinitos outros, mas nenhum é “o próximo número”. Mesmo que eu forçasse a barra pra fazer isso, teria no máximo uma lista assim: “1” com “0.00000“; o número “2” com “0.00000“;3” com “0.00000…” – não se trata do mesmo número repetido, mas a diferença entre eles só poderia aparecer infinitas casas decimais após as reticências… Impossível mostrar. Então, é preciso embaralhá-los para explicar o argumento; mas isso não é problema: a quantidade de cartas não muda se você embaralhá-las.

Hora da ação: dada qualquer lista possível de duplas entre, de um lado, números naturais e, de outro, números reais, dá pra descobrir um número real que está entre 0 e 1 e, mesmo assim, não está na lista!

Digamos, por exemplo, que a lista supostamente completa, com todos os números naturais de um lado, e todos os números reais de outro, seja esta (é uma lista infinita, então claro que só cabe parte dela aqui – mas não faz diferença):

lN <—–> lR (entre 0 e 1)

1 <—–> 0.75629…
2
<—–> 0.00321
3
<—–> 0.91526…
4 <—–> 0.43728…
5 <—–> 0.17265…
ao infinito.

Parece perfeito: todos os naturais à esquerda; todos os reais (entre 0 e 1, lembre) à direita. Todos mesmo?

Cantor consegue descobrir um número (na verdade, infinitos números, mas um já basta) que está entre 0 e 1, mas que não pode estar nesta lista. E ele consegue fazer isso com qualquer lista possível, em qualquer ordem, diga-se. O que, claro, prova que nenhuma lista pareada lado-a-lado com os números naturais pode conter todos os números reais. De fato, sobram obrigatoriamente infinitos números reais fora da lista!

Como Cantor descobre esses números “não listados”?

Antes de mais nada, tome o seguinte cuidado para não se perder: 0.75629… é um número. Já o primeiro 7 após o ponto (bem como o 5 ou o 9) é um algarismo, ou uma casa decimal. Então o que temos, em nosso exemplo principal, é uma lista infinita de números (entre 0 e 1), e cada número tendo infinitos algarismos. Assim, não confunda as duas coisas.

Cantor usa a seguinte estratégia: se um número for diferente de todos os que estão na lista, então é claro que ele não está na lista. Para isso, Cantor começa humilde: quer achar um número que seja diferente apenas do primeiro da lista. Fácil, não? O primeiro número de nossa lista, por acaso, é 0.75629… (não sublinhei o “7” à toa… observe) Não sabemos, é claro, quais outros algarismos compõem este número após as reticências. São infinitos, afinal. Com dez casas decimais, este número poderia bem ser 0.7562988765…, por exemplo, mas tanto faz. Não importa aqui. Basta olhar para a primeira casa decimal, que no caso é 7, e entender o seguinte: qualquer número cuja primeira casa decimal seja diferente de 7 é, obviamente, diferente do primeiro número de nossa lista – mesmo que todas as outras casas decimais sejam iguais. Assim, o número 0.85629, não importa como continue, é sem dúvida diferente do primeiro número de nossa lista. De fato, e é isto o que importa aqui, todos os números começados com 8 (ou qualquer outro valor que não 7) são diferentes de nosso primeiro número.

Agora, claro, Cantor dá o próximo passo: que este número, que já vimos ser diferente do primeiro da lista, também seja diferente do segundo da lista. Oras, o nosso segundo número é 0.00321 E seu segundo algarismo é 0. Obviamente, todos os números cujo segundo algarismo não seja 0 são diferentes de nosso segundo número – e o importante é que podemos ter certeza disso mesmo que não conheçamos mais nada do número, além de que seu segundo algarismo não é zero! Com certeza, nosso candidato 0.85629, que é diferente do primeiro número da lista, também é diferente do segundo. Será diferente do terceiro?

A estratégia é a mesma, claro. Nosso terceiro número é 0.91526…, cujo terceiro algarismo é 5. Outra vez, qualquer número cujo terceiro algarismo não seja 5 não tem chance de ser o terceiro número de nossa lista. Por acaso, nosso candidato continua invicto: 0.85629.

Não preciso dizer que basta fazer o mesmo para o quarto número em sua quarta casa decimal, para o quinto em sua quinta casa, para o centésimo em sua centésima casa, e assim por diante, ao infinito. O resultado será um número que está entre 0 e 1, pois começa com zero antes das casas decimais, mas que é diferente do primeiro, do segundo, do centésimo, do milésimo e, enfim, de todos os números da lista. Não está na lista, portanto!

Chama-se isto de “Argumento Diagonal”, é claro, porque se trata de descobrir um número composto por algarismos respectivamente diferentes de cada algarismo desta diagonal:

lN <—–> lR (entre 0 e 1)

1 <—–> 0.75629…
2
<—–> 0.00321
3
<—–> 0.91526…
4 <—–> 0.43728…
5 <—–> 0.17265
ao infinito.

Como a diagonal nos dá o número 0.70525, basta escolher um número cuja primeira casa decimal não seja 7, a segunda não seja 0… a quinta não seja 5a vigésima (após nossas reticências) não seja o-vigésimo-algarismo-do-vigésimo-número-da-lista, seja lá qual for… e assim por diante, sempre seguindo essa regra. O resultado será um número como, por exemplo, o nosso 0.85629 – um número diferente de todos os números da lista e que, portanto, não está na lista.

Resumo da ópera: os números existentes entre 0 e 1 não cabem numa lista ao lado dos números naturais “1, 2, 3, 4, 5,…” Qualquer lista deste tipo, embora inclua todos os números naturais de um lado, obrigatoriamente deixará de fora infinitos números reais de outro! Ergo, lN, embora infinito, é menor que lR; menor até que uma ínfima parte de lR, aquela contida entre 0 e 1.

*****

Por que o Argumento Diagonal não me convence?

Basicamente, por dois motivos.

O primeiro deles é sem dúvida o menos importante, mas ei-lo.

Existe um contra-argumento básico ao Argumento Diagonal, hoje automaticamente descartado como ineficaz. Mas esse julgamento me parece questão de alergia, e não de consequência lógica. O contra-argumento é o seguinte: se minha lista A não inclui todos os números reais, pois Cantor sempre descobre números que estão fora dela, então basta pegar todos esses números novos, descobertos por ele, e incluir na lista. Obviamente, surgirá uma nova lista B, formada pelos antigos números e pelos novos, recém-descobertos por Cantor. Claro, Cantor poderá fazer o mesmo na lista B: mostrar que ela ainda não inclui todos os números reais, pois fatalmente há muitos outros fora dela. Bem, inclua estes também! Isto nos dará uma lista C. Continuando isso, teremos uma lista D, uma E, uma F, ao infinito.

Agora, dado este processo infinito, por que concluir: “isto mostra que nunca haverá lista completa” em vez de concluir: “todo e qualquer número real pode ser listado, afinal… Então todos podem ser listados”? [Update 19.06.11 – pois pela mesma razão se poderia negar a correspondência entre naturais e pares (vide dois posts atrás), já que “nunca haverá lista completa”. Cada lista A de Cantor define uma quantidade de números que está fora dela, nos dando uma lista B; o processo se repete; seja lá qual for o número real em questão, ele é listável em algum ponto. Então todos são listáveis. Só porque temos uma etapa a mais em jogo – em vez se apenas passar ao próximo número, ad infinitum, passar à próxima lista infinita, também ad infinitum – o duplo critério, sobre a impossibilidade de o processo se completar em ambos os casos, aparentemente não se justifica.] Nem mesmo é claro se, após infinitas etapas (em vez de meramente finitas), não vamos obter a lista completa, afinal. Dada a extremamente difícil apreensão do conceito de “infinito” (que é o conceito que está em jogo aqui), não vejo como ter tanta segurança sobre o argumento de Cantor.

O especialista, claro, vai me perguntar como essa suposta “lista completa”, obtida após infinitas etapas, poderia escapar do Argumento Diagonal. Como ela poderia ser diferente das listas parciais anteriores?

Penso que ela poderia parecer com a lista que vou propor a seguir.

E que é o meu segundo, e mais importante, motivo de ceticismo.

Note que, para Cantor, todos os infinitos ‘enumeráveis’ são iguais (as aspas são porque, se eu estiver certo, não há tal coisa como infinito ‘não-enumerável’), e a prova trabalha sob esse pressuposto.

A meu ver, ao contrário, cada infinito tem um tamanho específico, determinado pela sua quantidade específica de elementos. Não há “o infinito” como não há “o finito”.

Vejamos a lista embaralhada dos lR entre 0 e 1:

0.67892…
0.82374…
0.11795…
0.64188…
0.17348
.
.
.

Segundo Cantor, não importa como façamos tal lista, sempre podemos construir um número (na verdade, vários) que esteja fora dela. No caso da disposição acima, basta que nosso número tenha dígitos respectivamente diferentes de 6, 2, 7, 8, 8, etc. Por exemplo, o número 0.74655… (se continuamos o procedimento substitutivo após as reticências) não faz parte da lista em hipótese alguma.

Assim, prova-se (?) que há números reais não listáveis entre 0 e 1.

Mas isso apenas sob o pressuposto de que todos os infinitos naturais são iguais.

Pois veja o que ocorre se usarmos a tática de Cantor para casos finitos. Tal analogia mostrará o que quero dizer:

a) Para duplas de 1 e 2:

0,11
0,12
0,21
0,22

A receita de Cantor nos permite forjar o número 0.21. De fato, ele não está na parte da lista que a diagonal alcança. Mas está na parte debaixo (não estou usando os dígitos 0, e de 3 a 9, claro, para simplificar o exemplo).

b) Para triplas de 1 e 2:

0,111
0,112
0,121
0,122
0,211
0,212
0,221
0,222

Outra vez, a receita nos permite 0.222. Outra vez, isso (só) prova que 0.222 não pode estar na parte atingida pela diagonal. Então, está abaixo dela. Tem que estar.

Quando aplicamos a estratégia ao infinito, Cantor presume que a quantidade de dígitos horizontalmente, por ser infinita, tem que ser igual à quantidade de números verticalmente, que também é infinita. Tal pressuposição implica que o infinito é “quadrado” e, portanto, que a diagonal sempre esgota a lista:

0,yxxxx…
0,xyxxx…
0,xxyxx…
0,xxxyx…
0,xxxxy
.
.
.

Mas, retire-se a pressuposição de que os infinitos são iguais, e em certo sentido ocorre o seguinte:

0,yxxxx…
0,xyxxx…
0,xxyxx…
0,xxxyx…
0,xxxxy
0,xxxxx…
0,xxxxx…
0,xxxxx…
0,xxxxx…
.
.
.

A argumento de Cantor só prova que, até onde a diagonal alcança, o número não pode estar incluído. Oras, ele está sempre abaixo da diagonal. E isto porque o infinito horizontal é logicamente menor que o infinito vertical. Como os exemplos finitos claramente mostram, pra cada “casa de dígito” adicionada horizontalmente, multiplicam-se as possibilidades de combinação na parte vertical da lista – de modo que sua quantidade é exponencialmente maior.

Penso que tal fato, decisivo, não é mudado pelo mero fato de as quantidades envolvidas serem infinitas.

Pelo menos, o argumento em contrário, até onde sei, é o de Cantor. Mas, se estou certo acima, tal argumento é circular, pois presume aquilo que supostamente prova: que todos os infinitos (enumeráveis) são iguais.

Imbecil e hereticamente, I rest my case.

The Amazing Spiderman

fevereiro 19, 2011

Tudo sobre o novo filme do Homem-Aranha está me soando mal.

Mas como não ficar entusiasmado depois de ver isto?


Todos os Infinitos são Iguais?

janeiro 17, 2011

Um teaser de minha apresentação para o V-EI, em abril.

Todos sabem que o infinito matemático é enlouquecedor. A simples ideia de uma quantidade “sem fim” parece incompreensível, senão mesmo um disparate. E, no entanto, nossas intuições sobre o infinito são pesadas como âncoras, dificílimas de remover; o que é especialmente problemático (e empolgante), já que várias destas intuições são contraditórias entre si!

Todos os infinitos são iguais?

A maioria das pessoas tem certeza absoluta de que a resposta é “sim”… e, também, de que a resposta é “não”!

Vejamos [pra facilitar me limitarei aos números positivos]:

SIM – É claro que a resposta é sim, pensam elas, porque infinito “mais um” continua sendo infinito. E, aliás, o mesmo vale para infinito menos um; ou vezes quatro; ou dividido por 500; ou raiz quadrada de infinito. Dá sempre infinito, nada se altera.

NÃO – Mas é claro que a resposta é não, pensam elas, porque embora a quantidade de números naturais (1, 2, 3, 4, 5,…) seja infinita, podemos pegar só a metade deles – por exemplo, os números pares (2, 4, 6, 8, 10,…) – e teremos ainda outra quantidade infinita. Como esta segunda quantidade, embora infinita, é apenas metade da primeira, vemos imediatamente que certos infinitos são maiores que outros.

Desnecessário dizer que as duas argumentações, SIM e NÃO, são difíceis de engolir.

CONTRA SIM – Na ilha caribenha ‘El Infinito’ a população atual é de infinitas pessoas. E você está de mudança para lá. Desta perspectiva parece evidente que a quantidade de pessoas da ilha será alterada com sua presença. Ao que parece, qualquer quantidade infinita + 1 dará outra quantidade infinita, diferente da primeira – e a diferença, claro, será justamente de 1. Veja: se você retirar de ‘El Infinito’ todas as pessoas que estavam lá antes da sua chegada, sobrará exatamente você na ilha, sozinho. Neste caso, infinito (população original + você) menos infinito (população original) dá 1 (você). Claro: se você tivesse ido com a namorada, então infinito (população original + casal) menos infinito (população original) daria 2 (você e sua namorada). Se é assim, todos os infinitos são iguais coisa nenhuma. Cada infinito é de um tamanho específico diferente!

CONTRA NÃO – Basta pensar melhor pra ver que a quantidade de números naturais é, afinal de contas, idêntica à quantidade de números pares, em vez de ser “o dobro” dela. Afinal, para cada número natural existe exatamente um número par – nem mais, nem menos! Basta listar os números naturais (1, 2, 3, 4,…) ao lado dos números pares (2, 4, 6, 8,…) pra ver isto:

1 <—> 2
2 <—> 4
3 <—> 6
4 <—> 8
5 <—> 10
6 <—> 12
.
.
.
317 <—> 634
318 <—> 636
.
.
.

…e assim por diante, “ao infinito e além”, rs: os números naturais (esquerda) nunca deixam de ser acompanhados, um-a-um, pelos números pares (direita). Por incrível que pareça, as duas quantidades infinitas são idênticas.

Os contra-argumentos acima são bons avanços, mas tampouco são satisfatórios. Em CONTRA SIM há uma ideia maravilhosa e racional do infinito, a meu ver, mas que até hoje não conseguiu se tornar matemática formalizada e utilizável; em CONTRA NÃO, a despeito da argumentação superficialmente plausível (mas que é adotada pela matemática moderna), é patente que a quantidade de números naturais não pode ser idêntica à quantidade de números pares, pela razão óbvia de que os números naturais incluem todos os números pares e ainda alguns outros. De fato, incluem infinitos elementos a mais que os pares: claro, os ímpares. A quantidade de pares + ímpares não pode ser igual à quantidade de pares, é claro.

Aos especialistas: esse último argumento não poderia ser mais óbvio e devastador. Infelizmente, é depreciado como “grave falha intuitiva” no meio matemático, porque ele contesta os atuais fundamentos estabelecidos. Bem, pior para tais “fundamentos”. Na verdade, os matemáticos varreram pra debaixo do tapete a questão real sobre a “quantidade de elementos” de conjuntos infinitos. No lugar disso, criaram um termo nebuloso, uma espécie de paródia operacional obscura do conceito de “quantidade”, isto é, a tal cardinalidade. De modo bem esotérico, se diz tecnicamente que a “cardinalidade” (e não a quantidade de elementos) dos números pares é idêntica à dos números naturais. Oras, o que é cardinalidade? A resposta honesta seria: um substituto artificial, sem significado porém útil, do conceito de “quantidade”.

Se algo tão bizarro foi eleito como fundamento da matemática moderna, é obviamente porque os matemáticos, a curto e médio prazo, estão mais interessados em algo que funcione na prática do que em algo que faça sentido. E, na prática, foi o esquema (pseudo) conceitual acima, devido a Cantor e Dedekind, que triunfou, porque implicava em uma matemática que, apesar de bizarra, se prestou bem à formalização lógica e, assim, ao uso efetivo.

Isso é bom, claro. Os matemáticos apenas não deviam se esquecer de que, enquanto usam muletas que funcionam, as verdadeiras questões filosóficas continuam ali, esperando seu momento. Ninguém deveria confundir utilidade com verdade. Infelizmente, a matemática moderna está infestada deste espírito.

Dito isso, flagrei pelo menos Richard Courant, em O que é matemática?, sendo devidamente explícito sobre o fato de que “cardinalidade” (ou “equivalência”) não é o mesmo que “quantidade de elementos”. À página 96: “o conjunto de todos os inteiros contém mais elementos do que o conjunto de inteiros pares (…) mas vimos que estes conjuntos são equivalentes [= possuem a mesma cardinalidade]”. Alguém pode pensar que isto fosse óbvio e que estou fazendo tempestade em copo d´água… Mas se os matemáticos estão cientes de que “cardinalidade” e “quantidade de elementos” são coisas diferentes, por que fazem sempre alarde sobre o aspecto supostamente paradoxal de, por exemplo, os números naturais terem “a mesma cardinalidade” dos números pares? A menos que cardinalidade significasse “quantidade de elementos”, não há paradoxo algum.

Sejamos francos: “cardinalidade” é um termo anfíbio, semanticamente impreciso, “meio que” significando “quantidade de elementos”. É por isso que se diz confusamente que o conjunto dos naturais e o dos pares “têm o mesmo tamanho” – isto não deveria ser dito, afinal. É apenas sintaticamente, no formalismo puro, que o termo “cardinalidade” adquire precisão, como um conjunto de definições operacionais. Para um realista matemático, claro, isto não basta.

As argumentações expostas em SIM e NÃO, CONTRA SIM e CONTRA NÃO, tranquilamente se prestam a outras réplicas e tréplicas, fazendo a razão oscilar entre considerar todos os infinitos iguais ou não. É uma discussão fascinante.

Mas afinal, todos os infinitos são iguais?

No contexto desde post, ao menos, a resposta tem de ser definitivamente “não”. Isto pelo seguinte: é verdade que, para a matemática “oficial”, conjuntos infinitos como o dos números naturais, o dos pares, o dos primos e até o das potências de 1 trilhão têm todos exatamente a mesma quantidade de elementos “cardinalidade”. Ainda assim, há outros conjuntos que são infinitamente maiores (!) do que todos os já citados. Um exemplo? O conjunto dos números reais. Você se lembra: naturais são os famosos 1, 2, 3, 4, 5… Já os reais incluem todo tipo de número “quebrado”: meio (0,5), um terço (0,3333…), um quarto (0,25), um oitavo (0,125), raiz quadrada de dois (1,41421…), pi (3,14159…), etc.

Pois bem: segundo a matemática hoje estabelecida, existem mais números reais (mesmo só considerando os que há, por exemplo, entre 0 e 1) do que números inteiros (mesmo em sua totalidade)! Curioso? Há um argumento espetacular pra isso, a famosa “Diagonal de Cantor” (contra o qual, aliás, também nutro reservas), mas eu não quero me alongar aqui. Falarei disso em meu próximo post. O importante, agora, é apenas reconhecer que nem todos os infinitos são iguais, mesmo para a matemática estabelecida.

Eu discordo da matemática estabelecida, mas também acho que nem todos os infinitos são iguais. A diferença é que, pra mim, nenhum infinito (∞) é igual ao outro. Um x + 1 será igual a um y; e este y + 1,  por sua vez, resultará num z; o que, claro, significa que ∞x + 2 = ∞z; e que ∞z – ∞x = 2 (não é difícil entender, só olhar com atenção ;)).

A ideia acima é bonita, mas difícil (senão impossível) de tornar praticável – sobretudo porque não temos um meio de expressar uma quantidade infinita específica, do mesmo modo que fazemos com quantidades finitas. Sabemos que finitoA + 1 = finitoB, mas também podemos “abrir a caixa” e ver que finitoA vale talvez exatamente 97, portanto finitoB valerá 98. E isso é matemática de verdade, aplicável. Não podemos, contudo, “abrir a caixa” de valores infinitos e dizer que ∞x vale exatamente 34871263[infinitos-n-dígitos]812, portanto ∞y vale 34871263[infinitos-n-dígitos]813. Ficamos limitados a falar vagamente. Até que surja uma ideia genial, ao menos.

Mas quer eu esteja certo, quer esteja certa a matemática moderna, nem todos os infinitos são iguais.

Isso foi pra aquecer. V Encontro Intelectual (V EI) me aguarde.

Consolo: House é como Rambo

janeiro 8, 2011

Não deixa de ser frustrante, e fonte de inveja, ver a enorme capacidade intelectual de nosso amigo amoral e ateu Gregory House. Suas tiradas geniais são ininterruptas. Jamais se constrange. Está sempre um passo à frente dos outros. Mesmo quando recebe um argumento ou provocação a altura, vira a mesa em segundos – na pior das hipóteses, perde com incrível estilo. Um ícone ambulante da razão encarnada, no seu melhor!

Fato: qualquer pensador adoraria ser como House, em intensidade, profundidade e velocidade. Na prática, nos sentimos muito aquém do potencial de uma situação – afinal, lá está House nos mostrando tudo o que é possível fazer!

Ah, os heróis da TV! Já me servia de consolo que mesmo House, no contexto da série, vivia constantemente dopado intelectualmente. Vicodin. Dava vontade de pensar: “assim até eu!”. Ainda tomo isso um dia, hehehe. Mas o buraco é (obvia e felizmente, para nós invejosos) mais embaixo…

Sabe aquela cena em que Rambo se joga de um helicóptero, sai resvalando em vários galhos das árvores, cai no chão e sai correndo, em fuga espetacular? Dá vontade de malhar 7 horas por dia vendo aquilo! O engraçado, descobri há uns meses ouvindo um nerdcast (recomendo todos eles), é que Sylvester Stallone fazia questão de dispensar dublês nas tomadas! O resultado hilário é que, pulando de míseros três metros de altura em cima de um colchão (!), ao gravar uma pequena parte do longo salto do helicóptero (feita em vários cortes, é claro), ele quebrou duas ou três costelas!

Esse é o exemplo mais forte de discrepância entre ficção e realidade que conheço. Mas House é outro! Simplesmente há quatro médicos que dedicam longo tempo de suas vidas a ajudar os roteiristas do seriado – de modo que o Dr. House pensa com quatro cérebros médicos (fora os dos argumentistas!) e em velocidade hiper-acelerada!

Feitas as contas, acho que já posso dormir tranquilo. 🙂

(Vai um vicodin?)

2011 & Suástica Azul

janeiro 6, 2011

A última atualização do Suástica Azul foi em abril. Há quase um ano. Ainda por cima, era um texto de 2005 “recauchutado”, sobre o livro bobinho O Mundo de Sofia. De lá pra cá, estudei muita matemática, pra descobrir que o topo dessa montanha é muito, muito alto (mas é fato: vou continuar escalando!), enquanto continuei dando umas olhadelas em filosofia da mente.

Até tive textos, esboços e ideias para atualizar o site. Mas esperei, os guardei. Por quê? Porque quero mudar o site, começar do zero. Outro nome, pois isso de “suástica” já cumpriu sua função – na época em que eu queria menos ser muito lido, e mais afastar os moralistas. Outro endereço. Outro visual. Mais facilidade de uso e de atualização – talvez eu pague alguém pra isso. Sem dúvida, um site onde seja possível a todos comentar logo abaixo das matérias. Percebi isso quando do final de Lost – quase resolvi publicar o texto lá, mas acabei o publicando aqui no blog. Resultado? Quase 300 comentários. Então percebi que eu estava perdendo muita coisa, num site onde é impossível comentar os textos.

Pagarei um preço: novo nome, novo endereço, o hype já conquistado vai todo embora.

Quando farei? Não sei. Gostaria em breve, já em fevereiro. Mas sinto estar muito ocupado. Não me surpreenderia se só rolasse de verdade em 2012! Veremos…

Os Últimos Filmes

dezembro 30, 2010

Um amigo meu tinha muitos filmes estocados sobrando. Peguei um monte emprestado e os saí assistindo. Ainda faltam alguns. Comentarei os que vi, brevemente:

Persépolis – A princípio, não dá coragem. Um desenho preto-e-branco sobre uma menina vivendo sob a ditadura do Irã nos anos 70. Eu sabia que, para muitos, se tratava de um “mini-clássico moderno”. Não é pra tanto, mas é surpreendentemente uma obra linda. A força do visual é incrível. A narrativa, cativante. Acima de tudo, a criatividade impressiona demais, numa obra que tinha tudo pra ser sisuda e burocrática. Consegue funcionar muito bem como comédia suave, inclusive. Além disso, é historicamente correta – de fato, baseada em obra auto-biográfica. Mas gostei principalmente do conteúdo: uma menina idealista em meio ao extremismo religioso só podia me fascinar. A cena de “alta subversão” do mercado negro é genial, e um exemplo de como é óbvio que a cultura ocidental não precisa impor nada – quem está de fora também acha óbvio que liberdade e diversão é melhor do que dogmatismo e razinzice devotada. (“Eurocentrismo”? Aff, não enche.) Nota 8.

Apocalypto – De grudar na poltrona! Apesar de não ser historicamente correto “à risca”, fazendo uma espécie de medley implausível dos aspectos mais empolgantes da cultura maia, a primeira metade do filme é deliciosamente realista. Veja: eu quase sempre odeio filmes de época, porque de algum modo as “pessoas de culturas passadas” são retratadas como alienígenas afetados, cheios de uma pompa estranha; aqui, ao contrário, os personagens são plenamente humanos. Acreditei em cada reação e situação. E é tudo fortíssimo e angustiante, até a segunda metade do filme. Aí vira Rambo, total. Mas isso não é ruim, porque o filme realmente decola, fica incrivelmente emocionante. O único problema é que, quanto mais empolgante, mais implausível. Isso pode irritar. Mas antes isso do que tédio. Quer se divertir sem riscos? Esse é tiro certo. Nota 7,5.

Encontros e Desencontros – Há tempos escuto falar desse tocante filme onde Bill Murray e uma linda jovem vivem um “quase-romance” extremamente cativante. Mas algo me dizia que eu não ia gostar muito. E de fato: o filme é bobinho. Uma espécie de “Antes do Amanhecer sem assunto”. A moça do filme é filósofa e, no entanto, não vemos qualquer profundidade nos (poucos) diálogos – vemos, isso sim, ela ouvindo auto-ajuda de quinta. Qualquer afeto bonito e espontâneo que pudesse haver entre os dois (afinal, a razão de ser do filme é essa), pra mim, entrou em extremas dificuldades já quando os dois se conhecem: ele comenta de cara que está recebendo 2 milhões pra fazer um propaganda! Simplesmente o cara não é o “simples homem profundo” nem ela tem alguma “sensibilidade especial” de notar quem ele é. Não comprei a ideia. No fim, o último encontro é irritantemente absurdo – já tendo se despedido no hotel, ela sobe e ele pega o táxi; mas lá na frente, do nada, encontra ela andando numa calçada! Apesar disso, algum humor eficaz, algumas cenas bonitinhas, experiência agradável. Nota 6.

O Escafandro e a Borboleta – Esse é o tipo de filme adorado por pseudointelectuais: tecnicamente pedante, chatíssimo, atuado com seriedade mórbida, editado para ser totalmente “artístico” e nada “palatável”. Uma dose, isso sim. Conta a história real de um editor de revista, na França, que sofreu um derrame e passou o resto da vida só podendo piscar um olho. Espere encarar várias cenas em que alguém recita o alfabeto e o sujeito pisca sempre que chega a letra que ele quer… Zzzzz… Ele escreve um livro inteiro assim, aliás. Eu entendo quem gosta: num belo dia de muita paciência e no estado de espírito certo, o filme pode funcionar lindamente. Mas a verdade simples é que o filme poderia ser muito mais agradável, interessante, marcante, se não fosse tão pretensioso em seus excessos técnicos, em seu se arrastar em “arcos artísticos”. E, claro, se tivesse mais conteúdo real, em vez de tanto blá, blá, blá óbvio e empolado na voz interior do protagonista. Mas uma vez passado o sufoco de ver o filme, então o já tê-lo visto se torna uma coisa boa. Não deixa de ser marcante ter estado, por algumas horas, na situação de horror de um homem preso em seus próprios pensamentos. Mas prepare-se para muito tédio. Nota 5.

Speed Racer – Esse é pra ver depois do filme acima (infelizmente, não o fiz), pois é meramente um filme leve, animado, empolgante, divertido. E despretensioso. Funciona, e isso basta. A única coisa que me incomodou um pouco foi o excesso no visual psicodélico. De resto, um filme sobre corridas (todas muito boas e empolgantes) e sobre idealismo individual versus ganância das grandes corporações, com um desfecho bobinho e bonitinho, bem a cara hipócrita da Disney – quem te viu, quem te vê, irmãos Wachowski! Nota 7.

Toy Story 3 – Revi. Magnífico, profundo, eletrizante, criativo, engraçado, tocante. Perfeito. O melhor da Pixar até hoje. Nota 10.

Oldboy – Não foi dessa vez que algo oriental me agradou. Um sujeito é preso num quarto por 15 anos, sem motivo aparente. Ao finalmente sair, busca vingança. De repente, se vê no centro de uma espécie de jogo, criado pela pessoa que o prendeu aquele tempo todo. Talvez o filme melhorasse bastante se as últimas três frases viessem escritas na primeira cena, pois é uma tortura (que dura uma chatíssima hora e meia) entender o que está acontecendo. Pois toda a edição do filme é irritantemente confusa, de tal modo que não ficamos curiosos, e sim mareados com tanto (aparente) nonsense e pistas vagas. No final, tudo faz sentido e é um alívio. E a reviravolta é realmente chocante, de cair o queixo. Mas eu já estava excessivamente cansado pela enrolação torturante que precedeu o desfecho. Não compensou. Nota 5,5.

Zodíaco – Esse é o nome do assassino serial que move a trama do filme. História real. Caso até hoje em aberto, diga-se. O que eu não sabia era que David Fincher (Seven, Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Alien 3) era capaz de fazer um filme chato! Ele meramente conta, em detalhe, a longa história de investigação que rondou esse assassino. Mas é sem tensão ou empolgação. Uma mera história, sem graça. Com O Escafandro e a Borboleta e Oldboy, este é o terceiro filme que Pablo Villaça, o melhor crítico de cinema no meu conceito, adorou e deu nota máxima, enquanto eu achei um gerador de bocejos. Nota 6.

As Férias de Mr. Bean – Começa até bem. Mr. Bean funciona fácil, não? Infelizmente, é muito cedo que o “estilo Mr. Bean” de comédia abandona o filme, trocado por uma tentativa de humor pastelão. Terrível. O final, então, é constrangedor. Só ponto para a piada geral do cinema, que brinca justamente com filmes pedantes e chatos (acabei de falar de três deles). Nota 3.

Simpsons – O Filme – Bem bom, mas pouco melhor que os bons episódios. Esperava mais. O tema do ambientalismo foi muito bem tratado – eu não achava ser possível fazer humor eficaz com algo tão tedioso. Eles souberam ser tão politicamente incorretos quanto possível, em tiradas magníficas. Fato é que morri de rir algumas vezes. Só o arco final, que é mais ação, decepciona um pouco. Nota 7,5.

A Grande Família – Bla. Repetem a mesma história três vezes! Só quando Agostinho aparecia, dava um alívio. Mas foram cenas fracas. Como humor, quase constrangedor. Sempre gostei de Os Normais e não tive paciência para A Grande Família. Se era um mau preconceito, esse filme só o piorou. Nota 3,5.

Indecifrável Política

setembro 30, 2010

Sempre interessado pelas grandes questões do Universo e da existência, o que envolve filosofia e ciência acima de tudo, nunca dediquei muito tempo à política. Até aqui, estou mais pra apolítico mesmo. No entanto, adoro debates – como donas de casa gostam de novelas. E embora eu nem mesmo vote, época de eleição sempre me gera interesse. De fato, estou com o link pronto para ver ao vivo o último debate presidencial, na Globo, que começa logo mais (e vai ser um atrativo à parte ver a mediação do sobrenaturalmente elegante William Bonner).

Fato: como homem de ideias, eu acabo me envolvendo com os argumentos e contra-argumentos dos candidatos (e de seus defensores, em fóruns da net) e querendo saber quem tem razão. E o que me parece é que tecer uma opinião racional e honesta é completamente impossível – o que me faz ficar absolutamente chocado com de onde vem tanta convicção de todas as partes discordantes!

Só para exemplificar, vou falar aqui de duas coisinhas, entre as tantas que me chamaram a atenção.

A primeira é a velha controvérsia: a privatização é ótima ou é terrível?

Ao privatizarmos indústrias estatais, estamos perdendo dinheiro e colocando o controle do país nas mãos de lobos capitalistas? Esse é o discurso, grosso modo, de esquerda… de Lula & cia; ou estamos incentivando a concorrência produtiva, desonerando o Estado, melhorando os serviços (a iniciativa privada trabalha de verdade, pois visa o lucro) e permitindo ao Governo se concentrar nas questões que importam? Eis o discurso de direita… PSDB e cia.

Bem, eu não sei a resposta. E isso é de se esperar, claro. Mas o chocante é que os mais preparados economistas parecem também não fazer ideia da resposta… afinal, discordam totalmente entre si!

De todo modo, eis um argumento devastador que li por aí, de um certo Ricardo, discordando do suposto fato de que a privatização devasta a economia do país:

É necessário levar em consideração que a empresa privatizada continua dando receita ao país através dos impostos. Em alguns casos, esses impostos tornam-se muito superiores ao lucro total obtido quando a empresa ainda era estatal, como é o caso da Vale. Em 97, ano que a Vale foi privatizada, seu lucro anual foi de US$ 677 milhões. Em 2008, lucrou US$ 21,75 bilhões, dos quais aproximadamente US$ 6 bilhões foram pagos de impostos ao governo. Isso é quase 10 vezes mais do que o Brasil ganhava naquela época!

Eu adoraria ver um esquerdista bem informado discordando disto. Um problema é que pode nem ser verdade – e, de fato, é incrível que toda facção política tenha seu próprio conjunto de estatísticas e números pra apresentar! Mas, sendo o acima verdadeiro, é realmente algo que me choca… pois é típico da esquerda afirmar (como se fosse óbvio) que o país perde rios de dinheiro com a privatização.

A segunda coisa é: o país melhorou no governo Lula?

A essa altura, até José Serra parece concordar com isso, embora reivindique que tudo não passou de consequência do governo FHC, este sim excelente, e cuja política econômica Lula prometeu mudar inteira, em campanha, mas que seguiu à risca após eleito – e essa é outra questão onde eu adoraria saber a verdade.

Mas, seja como for, Dilma e Lula repetiram à exaustão, nos últimos anos, a vigorosa queda nos níveis de pobreza do país. E mesmo em debate ninguém questiona os dados.

No entanto, fuçando por aí, dou de cara com isto:

http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=69&c=br&l=en

É simplesmente uma fonte aparentemente isenta, e que exibe pesquisa sobre vários países, indicando que a porcentagem de pessoas abaixo da linha da pobreza, no Brasil, dobrou entre 2000 e 2009! Saiu de 16% para quase 32%!

De modo que fica completamente impossível saber onde está a verdade.

E algo me diz que eu, em minha curiosidade vaga, já me informei e me interessei bem mais pelos candidatos e pelas questões políticas do que 95% do eleitorado. O que implica que a eleição será decidida de forma pior do que aleatória, isto é, com base meramente em sedução de propaganda (que está na mão dos poderosos… lá em Belém, de onde sou, vi a governadora ser acusada, em debate, de investir 60 milhões em saúde e 70 milhões em propaganda!).

E, aliás, não vamos longe… o Tiririca, com aquela campanha que chega a ser um insulto à mediocridade, está liderando as intenções de votos em geral! Diabos, pessoas morreram por suas crenças políticas, certas ou erradas em defesa do bem estar de todos, e a patuleia assina esse atestado de imbecilidade infinita! É difícil não passar pela cabeça, por um segundo, que o povão bem merece sofrer, putz…

E, pra encerrar minha rara manifestação política, não posso deixar de dizer que é um barato ver o Plínio nos debates, tocando um foda-se pra popularidade, e argumentando de verdade, com vigor e razão… Resultado? Nem 1% dos votos… Ou seja, não dá nem pra reclamar da evidente hipocrisia e demagogia dos demais candidatos, pois é o que funciona (embora Dilma esteja até arriscando perder a eleição, a meu ver, de tão óbvia que é sua forçação pra ser politicamente correta).

Mas ainda sobre o Plínio, suas propostas são bem bizarras. Eu adoraria vê-lo por isso em prática – minha curiosidade é (muito) maior que meus escrúpulos, rs. Aliás, que escrúpulos? Às vezes acho que adoraria ver um meteoro cair no Japão (não em Sorocaba, por favor), só pra ver o mundo mudar… é, vem de infância… eu achava os acidentes de carro emocionantes! Mas divago, rs… Adoraria saber o que aconteceria, de verdade, se Plínio desse o calote na dívida externa e elevasse o salário pra 2 mil!

Segundo o físico David Deutsch, isto vai ocorrer… em alguns universos paralelos… Quem sabe um dia a ciência possa nos mostrar as outras versões… Mas ok, isso sou eu voltando à minha vocação intelectual, que não é a política.

Não ainda, pelo menos. Mas bem que é cativante também. 🙂

É necessário levar em consideração que a empresa privatizada continua dando receita ao país através dos impostos. Em alguns casos, esses impostos tornam-se muito superiores ao lucro total obtido quando a empresa ainda era estatal, como é o caso da Vale. Em 97, ano que a Vale foi privatizada, seu lucro anual foi de US$ 677 milhões. Em 2008, lucrou US$ 21,75 bilhões, dos quais aproximadamente US$ 6 bilhões foram pagos de impostos ao governo. Isso é quase 10 vezes mais do que o Brasil ganhava naquela época!

Nietzsche no seu melhor

setembro 18, 2010

Os sentimentos e sua derivação dos preconceitos. “Confie no seu sentimento!” Mas sentimentos não são nada de último, nada de original; por trás deles estão juízos e valorações, que nos são legados na forma de sentimentos (inclinações, aversões). A inspiração nascida de um sentimento é neta de um juízo frequentemente errado! e, de todo modo, não do teu próprio juízo! Confiar no sentimento isto significa obedecer mais ao avô e à avó, e aos avós deles do que aos deuses que se acham em nós: nossa razão e nossa experiência.

Aurora, § 35

Uma Verdade Grandiosa

agosto 20, 2010

Será que a filosofia é estagnante? A ciência parece estar sempre avançando, enquanto a filosofia parece estar sempre perdendo terreno (…). A filosofia parece estar parada, perplexa; mas isto é só porque ela deixa os frutos da vitória para suas filhas, as ciências, enquanto ela própria segue adiante, divinamente descontente, em direção ao incerto e ao inexplorado.

– Will Durant, A História da Filosofia

Suástica Azul – Por que este nome?

julho 21, 2010

Como ando sem tempo para atualizar o site e mesmo postar no blog (aliás, sem tempo para internet em geral), este é um ótimo post para pendurar por um tempo aqui. Repostado de uma pergunta que me fizeram no formspring.me.

O nome “Suástica Azul” é, basicamente, fruto de duas influências marcantes em minha adolescência, e até hoje: Louis Pauwels, no livro O Despertar dos Mágicos, e Carl Sagan, no livro Pálido Ponto Azul.

O “azul” é fácil de explicar: a cor do céu. A cor do planeta. A cor pela qual, segundo Carl Sagan, sentimos afeição natural, graças aos milhões de anos em que nossa espécie evolui sob este céu. A cor que inspira horizontes infinitos. Sobretudo, a cor que desafia nacionalismos. Diz Carl Sagan:

A cor do céu caracteriza o mundo. Joguem-me sobre qualquer planeta do Sistema Solar; sem sentir a gravidade, sem olhar para o solo, somente com uma rápida olhada para o Sol e o céu, acho que posso lhes dizer com bastante acerto onde estou. Esse tom familiar de azul, interrompido aqui e ali por nuvens brancas felpudas, é uma assinatura do nosso mundo. Os franceses têm uma expressão, ‘sacré-bleu!’, que numa tradução aproximada seria “Céus!”. Literalmente, significa “azul sagrado!”. Sem dúvida. Se houver algum dia uma verdadeira bandeira da Terra, essa deverá ser a sua cor.

Quanto à “suástica”, O Despertar dos Mágicos dela diz uma série de coisas que me cativaram:

Na Europa, como na Ásia, a suástica foi sempre considerada um signo mágico. Viram nele o símbolo do Sol, fonte de vida e de fecundidade, ou do trovão, manifestação da cólera divina, que é necessário esconjurar. Ao contrário da cruz, do triângulo, do círculo ou do crescente, a suástica não é um símbolo elementar que possa ter sido inventado e reinventado em qualquer época da humanidade e em todos os pontos do globo com uma simbólica sucessivamente diferente. É o primeiro signo traçado com uma intenção precisa.

Atente sobretudo para a última frase. Ela tira-me o fôlego! Pauwels salienta que o formato da suástica possui design. Ela já é uma versão, em pequena escala, do que ocorre com uma equação matemática, ou com um relógio: é algo que sabemos ser criação deliberada de uma inteligência, e não algo simples e casual. Isto fez com que a suástica simbolizasse, para mim, precisamente a inteligência – e o “ao contrário da cruz” da citação me cativou ainda mais, naquela adolescência ateísta (ainda mais) rebelde.

Ainda há uma segunda passagem no livro, que trata de possíveis significados embutidos na estrutura dos símbolos. “Os símbolos talvez sejam os modelos abstratos, estabelecidos desde as origens da humanidade pensante, a partir dos quais as estruturas profundas do Universo nos poderiam ser sensíveis”. Sim, isto soa insano. É um livro sobre realismo fantástico. Hoje, totalmente cético, eu já me distanciei bastante de tais especulações desvairadas. No entanto, a poesia e o encanto da coisa continuam. Vejamos: após falar sobre Einstein ter desenhado o símbolo γ (triedo) para referir as relações do espaço-tempo, Pauwels especula que então a suástica talvez seja o “modelo” da lei que preside a toda destruição. E, tudo bem… Isto de “destruição” não é um bom cartão de visita para o site. Mas, outra vez, o que me impactou foi mais geral: não importa se a suástica é o modelo da destruição ou se a espiral é o modelo da evolução (como ele também diz); o que importa é a própria ideia cativante de um símbolo, em sua simples estrutura, poder portar significados tão vastos, vinculados à estrutura do Universo, da Realidade. E como era sobretudo da suástica que o autor estava falando, foi ela que me impressionou, dessa vez, como um símbolo da ideia geral de Pauwels, isto é, um símbolo de alguma “das estruturas profundas do Universo” – e também por isso, há coisa de um ano, eu fiz a suástica do site se assemelhar mais a uma galáxia (além do que, espiralada). Fato: a suástica me marcou na leitura desse livro.

Ainda hoje acho tudo isto cativante. Na adolescência, sendo O Despertar dos Mágicos o meu terceiro livro, tudo soava ainda mais romanesco e grandioso.

No fim das contas, “Suástica Azul” era um nome original, com um significado belo e obscuro (pra não dizer oculto), com uma sonoridade bonita e, não menos importante, com o casual ‘extra’ de ter um impacto polêmico e marcante (por conta da óbvia associação sempre feita, da qual estou prestes a falar).

Obviamente acabei de explicar as razões “etimológicas” do nome.

Mas o fato de a suástica ser irracionalmente perseguida pela associação arbitrária com o nazismo, apesar de seus milênios de independência contra meio século de uso político; e apesar de, seja como for, não passar de um símbolo; é, em si mesmo, uma razão extra para eu adotá-la. Sou essencialmente contra o moralismo, mais ou menos como Bertrand Russell e George Orwell também o eram – “ortodoxia é não pensar”. E, portanto, gosto de desafiar aquelas pessoas (moralistas) que são incapazes de olhar para a suástica e dissociá-la do nazismo. Esta incompetência, afinal, é reveladora do tipo de intolerância moralista que eu desprezo – como se fizesse sentido proibir cruzes, por causa da Santa Inquisição; ou proibir pentagramas, por causa da bruxaria. É tudo idiotice, a meu ver. Se uma pessoa tem um mal-estar irracional ao ouvir “Suástica Azul”, mesmo sabendo que isto nada tem a ver com nazismo, então o problema deve ser dela, e não meu.

O enigmático título “Suástica Azul”, portanto, carrega nos horizontes infinitos do azul celeste a ideia de humanismo, de aventura, de liberdade, de busca pelo desconhecido; e carrega na precisão, na estrutura e na casual polêmica da suástica os sinais de inteligência, de vastidão cósmica e de aversão ao dogmatismo. Dogmatismo, aliás, do qual o nazismo foi um dos exemplos mais enojantes – outra das tantas óbvias razões pelas quais, se é que resta dúvida, (é claro que) eu desprezo o nazismo.

Momento Anti-Hitler

julho 4, 2010

“No espaço de poucas semanas, Hitler destruiu a grande tradição matemática de Göttingen construída por Gauss, Riemann, Dirichlet e Hilbert. Alguém comentou que essa havia sido ‘uma das maiores tragédias presenciadas pela cultura humana desde a Renascença’

Marcus du Sautoy, em A Música dos Números Primos, pg. 169

Taí mais um motivo para pensar em Hitler e só vir à mente a estupidez em seu mais alto grau. Precisamente o espírito religioso, de acreditar nas coisas por mero ‘feeling’, sem evidência nenhuma – e até de desprezar deliberadamente o pensamento racional – e também de se sujeitar a autoridades, é que são característicos por excelência do nazismo.

Preciso mesmo publicar no site, de maneira bem clara, a justificativa do nome, que não tem a ver com nazismo, evidentemente. Mas a lerdeza sempre me impede.

*****

Por falar em site, foi hackeado um dia desses. Por uns minutos (ou talvez horas), exibiu uma bandeira da Arábia Saudita, uma mensagem de Alá e, na cara dura, a frase “Hacked by…” não lembro o fulano. Por sorte (ou distração de Alá, rs), eu loguei quase na mesma hora, percebi, e pude trocar a senha, antes que o hacker o fizesse. Acho mesmo que corri o risco de perder o site!

De Tudo um Pouco…

junho 20, 2010


Depois do enorme sucesso do texto O Fim de Lost, abaixo, meu recorde absoluto na internet, dei mais uma parada com o blog e o site. Sim, eles andam beeeeem mais devagar do que eu gostaria. Pelo menos, agora isto tem sido inevitável e por bons motivos. Houve tempo em que era por pura e vagabunda preguiça mesmo, rs.

1) Estou acompanhando a Copa do Mundo de perto. Isso eu faço. De 4 em 4 anos. Por quê? Dá um prazer enorme, eu sou hedonista, então fecha. Hoje, por exemplo, fiquei frustrado com a Costa do Marfim, que jogou também seus 4 jogos em Copa do Mundo e, hoje, se limitou a ficar com medo do Brasil e partir pra violência. Não queria que o Brasil perdesse, mas um empate ou uma vitória por um gol (saldo) ia bem. Quero a Côte d’Ivoire nas oitavas!

2) Estou lendo A Solução de Poincaré, livro de Donald O’Shea, basicamente sobre a matemática das dimensões. De palpitar! O livro se diz pra leigos, mas está no limite da minha atual competência matemática, que não é tão pouca assim. Estou feliz porque ele aprofunda questões que A Janela de Euclides, de Leonard Mlodinow, só aludiu, me deixando com água na boca. E só aumenta minha sensação de que a interpretação padrão dos grandes resultados matemáticos é errada. Pra ficar num exemplo: retas (euclidianas) e geodésicas simplesmente não são a mesma coisa, e não deixa de ser filosoficamente confuso misturar os nomes delas nas geometrias não-euclidianas, chamando tudo de “reta” e parecendo dizer algo espetacular: que há triângulos (três lados retos) com mais de 180º internos. Desconfio que há uma faxina conceitual a se fazer na matemática.

3) Também andei meio professor Ludovico, andando pra lá e pra cá, com especulações insanas sobre a natureza do Infinito matemático. Tive uns debates no orkut e descobri que minha ideia geral não era, afinal, confusão de um leigo. Há realmente matemáticos respeitados que a defendem. Além disso, achei até um caminho – quão irrelevante eu não sei, rs – para se evitar a bizarra prova diagonal de Cantor. Na pior das hipóteses, tudo isso me deixou com uma vontade triplicada de estudar a coisa. Fabuloso, pois. E o que nos leva ao ponto 4.

4) Espero conseguir turbinar meu intelecto seguindo a dica da Superinteressante (uma certa capa do ano passado). A coisa é meio cara, mas vale à pena. Tomara que dê certo. Desejo ser um rolo compressor sobre os livros de Cálculo.

5) Assisti a uns filmes recentemente (depois de Lost, um tempo em seriados, please).

a) Jogos Mortais VI: depois de um primeiro filme genial, uma continuação já meio fraca e mais três capítulos (III, IV e V) decididamente rasteiros (mas ainda legaizinhos pra quem gosta da coisa), este sexto filme é até um pequeno avanço. Três qualidades: o mais violento; o mais mitológico; o mais “Jigsaw é o cara” desde o capítulo II. Gostei.

b) Toy Story 3: meu primeiro filme em 3D. Uma estreia arrebatadora! Nota 10! Já amava os filmes anteriores, mas este superou até Monstros S. A. que, até então, era meu preferido da Pixar. E isto porque a consciência emocional da história aqui é cativante até não poder mais. Uma ode, belíssima!, à amizade e ao amor incondicional. E ainda temos ação e humor (inteligente e pastelão) de primeiríssima categoria.

c) [REC]²: o primeiro filme é fabuloso, dos que mais me assustou (e isso é incrivelmente difícil). Este segundo é puro lixo, e foi frustrante apesar de eu já saber que seria fraco e não pretender mais do que me distrair com ele. Poucos filmes merecem essa recomendação: não veja, em qualquer hipótese. Ele nem é daquele filme que, de tão ruim, se torna interessante pelas falhas absurdas. É só um tédio neutro mesmo.

d) A Fantástica Fábrica de Chocolates (1971): Certos filmes talvez não devam ser revistos. Vi este uma dúzia de vezes em minha infância e adolescência e, até ontem, o tinha como uma obra-prima. Foi dolorido ver que, com meus olhos adultos e críticos de hoje, o filme se esfacelou. Mal interpretado (exceto por Gene Wilder, que ainda é algo que vale a pena ver). Constrangedor em suas bobices visuais, musicais, morais, criativas, etc. Um dia ainda vou revê-lo, outra vez, pra ver se não estava só num mau dia. Já ocorreu com Indiana Jones e a Última Cruzada, que é sim fabuloso.

6) Filmes que me esperam em breve: Cidadão Kane (estou receoso do tédio, rs); Mississipi em Chamas (deve ser ótimo, eu sei… mas também tô enrolando); Creation (o filme de Darwin não chega a me empolgar, mas soa atrativo – o trailler foi dos melhores que vi); O Golpista do Ano (Jim Carrey nunca mais foi genial, mas é sempre imperdível).

7) Livros que me esperam: Gödel, Escher, Bach, Douglas Hofstadter (antes de julho, juro!); A Música dos Números Primos (nem lembro o autor, mas completa meu ciclo preparativo para imergir em matemática de vez).

8 ) Quero concluir, antes da Copa terminar, um blog com os retalhos de tudo que anoto. Muito difícil, mas vou tentar.

9) Acabei de ouvir o novo disco do Capital Inicial, Das Kapital. Medíocre é elogio. Só não é pior do que o Sacos Plásticos dos Titãs, que chega a ser ofensivo de tão ruim. E eu adoro muita coisa de Capital Inicial (sobretudo o Atrás dos Olhos, de 1999). Bem: a tal “música de trabalho”, Depois da Meia Noite, é apenas Capital Genérico, sem qualquer inspiração nova, e faz ter saudades de músicas já nem tão boas como Tudo Que Vai… A única música que me agradou foi Como Se Sente, e olhe lá. Quase esquecível. Por que, oh céus, as bandas de música só despencam em qualidade?

Deixa eu voltar pro A Solução de Poincaré agora.

O Fim de Lost

maio 26, 2010

Lost S06E17 e S06E18 – The End
A voz dos descontentes…

Alerta vermelho: este texto é somente para aqueles que assistiram todo o seriado de Lost, até o último episódio.

[ Extra: o blog Desvendando Lost, da Fernanda Gomes, quer começar o trabalho de amarrar as pontas soltas, se isso for possível. Começa com uma lista de perguntas sem resposta. Quem quiser contribuir, com soluções ou mais furos da série, vá lá. ]

Eu, como Nemesis da série que amo… Criticar negativamente o Series Finale de Lost, um episódio feito sob medida para agradar, emocionar e encantar, não é uma tarefa fácil. Mas a legião de descontentes tem muita razão, e eu queria – dentro de minhas possibilidades – dar-lhes voz com essa crítica (fato é que os principais veículos, como Dude We Are Lost!, Teorias Lost, Lost in Lost, foram completamente elogiosos, e até o Defenda a Ilha da sempre científica KA, foi bem mais elogioso do que seria de se supor.  Isto não reflete a ferrenha divisão entre os fãs. Está faltando um ponderado contraponto. Deixem-me tentar).

Uma vez que decidiram pelo (direi por que foi) péssimo caminho de mostrar o pós-morte dos Oceanic 815 & cia., não se pode negar que capricharam na ideia. Quem já simpatiza com isso e não está muito preocupado com a complexidade da trama deve mesmo ter se deleitado de cara com o episódio. Pessoalmente, só na segunda vez que vi, já conformado e preparado, pude apreciar o capricho da revelação do Limbo – o quão foi gradual, cheia de pistas elegantes, minuciosamente interpretada, pontuada por ápices emocionais, seja em diversas relações de amor (confesso que desejei dizer que ficou piegas… e não ficou… eles souberam fazer), seja com Locke e Ben, Hurley e Charlie, Jack e Christian. E ainda o final clássico, emblemático, com Jack fechando os olhos – tão espetacular a ponto de chegar, às vezes, a me distrair da dolorosa decepção. São todos grandes momentos de Lost, dignos de um Series Finale. Pesam contra todo esse deleite a forçação dos encontros na pressa do episódio, o nonsense da maneira como as lembranças são despertadas e, acima de tudo, a novidade posta goela abaixo de uma realidade espiritual pós-morte, ainda por cima no formato insosso de um clichê religioso e puritano.

Lost não é isso (assim como Star Wars, Arquivo X e De Volta Para o Futuro não são isso), e concluir a série assim é alta traição, tanto quanto seria se ocorresse com as citadas obras – todas também angariaram fãs, lealdade, paixão e altas expectativas, com a diferença de que respeitaram tais expectativas (malgrado Arquivo X tenha se perdido em má qualidade, não largou sua essência nunca, e agora vejo o quanto isto foi melhor do que o ocorrido com Lost).

Além disso, não é como se, em momentos cruciais, não tivéssemos falas a bem pensar terríveis, que não enganam, como a justificativa do encontro no limbo: “estamos aqui para lembrar… e para esquecer”. Não dá. Doeu no cérebro [Juliana, nos comentários, me corrigiu aqui – o original “let go” tem a tradução bem melhor (no contexto) de “desapegar”, o que faz sentido. # v. comentario #]. Mas eu disse “falas”, no plural, por ter em mente uma segunda, que não citei. Era Jack dizendo para (F)Locke, em pleno encontro histórico, basicamente isto: “não posso detê-lo (…) vou matá-lo”. Entendo quem gostou. Sem concordar, entendo até quem apenas gostou e não viu problema algum. Mas acho que estão, acima de tudo, cegos para o fato de que toda essa poderosa sedução emocional está longe de superar toda a tragédia de roteiro deste The End, tragédia herdada pela temporada e pelo seriado inteiro.

A essência da série – sim, os enigmas – foi abandonada. Agora, quando eu ver alguém que, como eu, assiste o Piloto e fica pungentemente intrigado, fascinado, tomado pelo mistério da criatura oculta que derruba árvores e tem som mecânico, só me virá a tristeza de saber que a pessoa está sendo ludibriada. Que aquilo não é um mistério (que pressupõe resposta), mas sim apenas mera bullshit, mera enrolação sem fundamento.

Queria dizimar, de uma vez por todas, o argumento auto-enganador, a falsa consciência, de que “tudo bem Lost deixar os mistérios pra lá, porque a série é sobre personagens, não sobre mistérios”.

Todos os outros seriados têm personagens, mas só Lost justificou uma Lostpedia, que é uma enciclopédia investigativa tentando juntar todas as pistas. As comunidades estão abarrotadas de tópicos e teorias sobre enigmas, e não de comentários profundos sobre a natureza do amor ou da culpa (o que você encontraria numa comunidade de Brothers & Sisters, não em Lost). O que moveu Lost e seus fãs foi a investigação, a especulação. Se trocassem todos os personagens por outros, com vidas diferentes, mas deixassem a Ilha, a Black Smoke e a Dharma lá, Lost ainda seria Lost. Mas se tirassem todos os enigmas e só deixassem Jack, Kate & cia. na Ilha, Lost seria apenas uma versão tediosa de O Náufrago, que talvez nem passasse do episódio piloto.

Muitos, aliás, caíram na conversa fiada dos produtores. Como diz Guilherme Araújo, ao comentar o excelente artigo de Alexandre Versignassi (editor da revista Superinteressante) sobre o fim de Lost:

“Ao perceber que não conseguiriam dar conta, começou uma campanha ridícula, no início da 6ª temporada, protagonizada por produtores, roteristas e atores, que passaram a dar centenas de entrevistas (muito bem ensaiadas, diga-se de passagem) com a mesma frase: ‘A série é sobre os personagens e não sobre os mistérios em si’.”

Fato. E o passado condena os responsáveis por Lost:

Revista Veja: Muitos fão reclamam que Lost ficou mirabolante. O que está ocorrendo?

J. J. Abrams: Vou lhe dizer o que ocorre: esse pessoal não é nerd o suficiente. Nunca perdemos o controle. Ao fim da trama, todas as pontas se ligarão.

Chocante, não? Espero que isto cale os maníacos por repetir: “é uma série sobre personagens” (como se alguma série não fosse). Ainda este exemplo amargo, em palavras de Michael Emerson, intérprete de Ben: “a Ilha opera por um mecanismo científico, não algo místico ou espiritual”.

Então, Lost é sim uma série sobre enigmas. Melhor: é A Série sobre enigmas. E o que fez foi jogá-los no lixo e nos dizer: “esqueçam tudo e olhem pra cá: vejam os personagens no céu, comovam-se, fiquem anestesiados”. Para aqueles, como eu, em quem a anestesia não teve efeito, tem sido muito difícil suportar a dor e, pior, os (supostos?) fãs de Lost não só aceitando essa destruição dos rumos da série como, também, gostando dela.

Tudo isto dito, vamos aos fatos. Aos terríveis fatos.

Falarei primeiro do Limbo. Depois dos eventos da Ilha. Por fim, de como ficou a Mitologia de Lost.

O LIMBO

A primeira coisa a se esclarecer é que o Limbo pós-morte, essa novidade surgida nos últimos minutos do seriado (ou na 6ª temporada inteira, em retrospectiva), não tem nada a ver nem com a história pregressa dos personagens, nem com a mitologia da série e nem com qualquer evento específico visto ao longo de seis temporadas. É uma inclusão gratuita à trama de Lost. E ela é exatamente tão inadequada quanto seria, se surgisse fosse no final de O Poderoso Chefão, Star Wars, Homem-Aranha, O Senhor dos Anéis, Prison Break ou qualquer outra obra não relacionada à vida após a morte.

Como tal, o Limbo não faz absolutamente nada pela trama do seriado. Como um desfecho para a série, portanto, é absurdo. No que importa pra trama de Lost, sabemos apenas que a Black Smoke foi destruída (de um modo tão absurdo como surgiu), sabemos quem morreu, quem ficou e quem saiu da Ilha. Não ficamos sabendo mais nada, por incrível que pareça.

Agora, claro, há uma sensação de “wow, que genial!” no ar. Numa espécie de paródia pobre do fim da 3ª temporada, agora vemos que a história que assistíamos é outra coisa. E isto explica por que Desmond podia atropelar Locke sem problemas (já estavam mortos afinal), por que Ana Lucia ‘não está pronta’ (ainda corrupta), etc. Genial? Longe disso. Afinal, Keamy e Bakunin morrem – em plena vida após a morte! De Ana Lucia e outros problemas, falarei mais adiante.

Ficou a sensação terrível de que nem mesmo a ideia do Limbo foi proposital, mas mero improviso desesperado dos responsáveis por Lost que, ainda nessa temporada, puseram na boca de Faraday praticamente uma prova de que a “realidade paralela” foi causada pela explosão da bomba – se não foi, por que diabos ele teria aquele flash-sideway (que no caso seria falso), com aquelas equações? O que as equações mostram, bem entendido, é que uma explosão criou uma realidade paralela. Oras, acho que nem o fã mais estúpido de Lost está disposto a aceitar que uma realidade espiritual surgiu graças à explosão de uma bomba.

Um detalhe interessante, sobre a bomba ter mesmo gerado a realidade paralela/Limbo, é Juliet. No início da sexta temporada temos um festival de ambiguidades. Por um lado, Juliet está tendo flashes do momento em que encontra Sawyer no Limbo (o que faz sentido porque, como Desmond, ela foi exposta ao eletromagnetismo): “precisamos tomar um café”, “vamos dividir”, “beije-me”, “funcionou” (sobre a máquina de chocolates).

Por outro, Juliet está falando sobre a bomba: “Não deu certo. A bomba não funcionou”, “Preciso te dizer algo muito, muito importante…” (Miles completa –>) “funcionou”. Não dá pra dizer que é “muito, muito importante…” que a máquina de chocolates tenha funcionado. Juliet está dizendo que a bomba funcionou, então? Nem uma coisa, nem outra. Esses roteiristas foram muito ‘espertinhos’ (no mau sentido) nessa.

Não bastasse o Limbo ser algo posto lá à-toa, e que contradiz Faraday (e talvez Juliet), ainda é um mar de incoerências internas  e nonsenses. Oras, aquele é um lugar onde estão pessoas que já morreram. Por que só eventos relacionados à Ilha e ao Oceanic 815 despertam lembranças? O Limbo só existe para os Losties? Como Aaron nasce naquele lugar? Como Bakunin e Keamy morrem naquele lugar? Eles vão pra um “meta-limbo”?! E se os mortos vão para o Limbo e demoram pra lembrar da vida real, isso complica todas as aparições de espíritos 1) de pessoas fora da ilha, como Eko e Charlie; e 2) de pessoas na ilha, que nunca estiveram lá, como a mulher de Alpert ou o amigo de Hurley – já espíritos como o de Michael são ‘explicados’ por ficarem presos ali.

Para tapar esses furos, alguns levaram Locke a sério e acham que o filho de Jack não existe, portanto Aaron não existe. Então o Limbo seria um lugar mais estranho ainda: espécie de ‘simulação espiritual’ dos losties escolhidos, vivendo uma vida fake ideal, antes de serem ‘purgados’ e irem pro paraíso. E, no caso, só os losties existem. Mas como isso é? Keamy e Bakunin não existem? Penny, que nunca esteve na Ilha, não existe? Nádia existia? Ethan existia? Cadê Walt? E se é tudo simulação-para-os-losties, por que há uma ilha afundada no oceano, incluindo tubarão com logo Dharma, que ninguém ali jamais viu ou sabe que existe? Outra vez, só os losties estão no Limbo? Por quê? O que o vôo 815 tem de especial, a não ser para o público que assiste? E se Aaron não existe, lá estão Charlie, Claire e Shannon, às portas do paraíso, numa cena patética sorrindo para um boneco.

Também sem sentido é o padrão de qualidade moral do Limbo: enquanto Michael ficou preso na ilha, sussurando (¬¬), porque matou no impulso para salvar o filho, e Ana Lucia ‘não está pronta por ser corrupta’, Sayid torturou e matou dezenas a sangue frio mas ‘tem coração bom’ e está lá na festinha celeste. E não diga que ele se redimiu ao se matar, porque Michael fez o mesmo. Pior foi ver Sayid com Shannon, quando claramente seu grande amor é Nádia. Essa foi uma escrotização no talo.

Nem tente encontrar sentido. Nada fecha. Foi tudo jogado à-toa.

Cenas bonitas à parte que nos proporcionou, o Limbo é uma patacoada imperdoável, de cabo a rabo. Se isto, por si, não faz do Series Finale algo ruim, não sei o que faria um fã desgostar. Mas tem mais.

A ILHA

Os acontecimentos da Ilha, neste Series Finale, tiveram idiotice além da conta. Por exemplo, Lapidus ter sobrevivido era impossível. Ele tinha desmaiado, e nem respirador sobrou pra ele. Além do mais, ele já havia dito que o avião não poderia decolar, na situação e posição em que estava. Tudo isso foi doendo ao longo do episódio. Como ver Ben ser reduzido a imbecil quando diz: “quando disse que destruiria a ilha, achei que fosse metaforicamente”. Como se (F)Locke não tivesse sido claríssimo e direto. E como não bastasse a desculpa ultra-esfarrapada do episódio anterior: “descobri que era a fumaça quem me convocava”, que foi de lascar (claramente um improviso, e fraco, para amarrar a incoerência). Ainda assim, dá pra dizer que são detalhes. Só que, sendo todo o resto pior, esses detalhes incomodam muito mais.

Dá pra acreditar que (F)Locke, depois de 2 mil anos tentando, não vence por pura burrice?

E que Jack morre completamente à-toa?

Pois é. (F)Locke só não venceu porque não quis! Porque, em vez de matar Jack quando teve a chance, saiu andando… abÇurdo! Ou nem matasse Jack, mas ao menos cortasse a corda… ¬¬ Ainda por cima deixou uma arma com Sawyer, estupidamente, e por isso morreu. Os losties deram apenas sorte de encarar um vilão tão burro. Tudo isso é ruim demais pra ser relevado. Não são pequenas mancadas. As questões mais importantes do seriado, como quem vence uma batalha de 2 mil anos, são decididas por pura avacalhação. O que deveria ser épico se torna patético. Você não quer ver Darth Vader perdendo a luta porque escorregou numa casca de banana. É imperdoável.

Quanto a Jack, Desmond poderia pôr a rolha de volta, sem morrer, do mesmo modo que a tirou. Jack, ao contrário, faz questão de tirar a rolha, sem razão alguma pra isso, e morre de graça. “Você morreu por nada”. (F)Locke tinha razão, afinal.

A MITOLOGIA

Superficialmente, e fazendo muita força, a trama da ilha até que fechou. Em que pé ficamos?

Uma antiga inteligência, da qual nunca saberemos a origem, colocou na Ilha uma estrutura eletromagnética e/ou vital. E é de presumir que usaram algum truque ou encanto espaço-temporal, para só permitir ao guardião acessar sua Fonte de Luz. Sabemos que é uma inteligência, e não um fenômeno natural ou espontâneo, porque o interior da Caverna de Luz possui escadas, mecanismo e uma rolha com inscrições. E creio estar claro que não foi a mãe adotiva de Jacob quem construiu aquilo. Aliás, se a estrutura é tecnológica ou mágica, ou ambos, isso fica propositalmente em aberto.

Essa estrutura, ao que tudo indica, é a causa da vida existir na Terra. Presumivelmente, há centenas de milhares de anos tal Caverna de Luz vem sendo alvo de um revezamento de guardiões, num processo sem fim. Um destes guardiões é a mãe adotiva de Jacob e seu irmão. Ao que sabemos, ela é apenas uma entre tantas, como Jacob e Hurley a seguir. Presumivelmente não foi a primeira. Ela não é especial.

Contudo, algo especial ocorre – e nossa história começa aí – quando o irmão de Jacob se torna (graças à Luz) a Black Smoke e, assim, ameaça de modo bem mais concreto a Caverna de Luz. E o clímax desta história são exatamente os eventos que a série apresenta, eventos causados pelo fato de Jacob estar reagindo à Black Smoke. Ela, afinal, está o mais próxima possível de matá-lo e de destruir a Ilha. Agora, se a fonte é destruída, toda a vida morre. Felizmente, Jack consegue deter a Black Smoke. E Hurley o sucede, numa era mais pacífica. E este é o final feliz da história.

Isto é o pouco que temos (se é que temos). Agora o muito que não temos.

Histórias centrais à série, como a da Dharma, DeGroots e Alvar Hanso, tiveram um desfecho apenas vagamente dedutível (temos que supor que a comida Dharma que chegava para os losties viajava no tempo e que toda a Dharma morreu na Ilha, não sobrando ninguém lá fora; e temos que nos conformar com não sabermos o que a Dharma fazia, a não ser que eram “experiências malucas”). Concedo, porém, que deram uma elegante ‘palha’ sobre a Dharma ao nos mostrar os antigos romanos como “homens curiosos”. Eles foram a ‘primeira Dharma’, digamos. E, do mesmo modo, foram erradicados da Ilha, pois a Fonte não deve ser ameaçada com abordagem científica.

Enigmas colossais como a natureza da Black Smoke ou a origem da Estátua foram só vagamente aludidos. Todo o movimento dos Outros, associado a Jacob, é deixado pra trás de forma totalmente confusa, incoerente, esburacada (por que eles eram hostis com os Oceanic 815, se o próprio Jacob os trouxe? – deixaram Charlie, que era candidato, claramente para morrer enforcado. Por que faziam as maluquices que faziam?). Mistérios cruciais como a bilocação de Walt, a verdade sobre os bad numbers, a importância de Aaron, as poderosas “regras” entre Jacob e seu irmão e entre Ben e Widmore, as capacidades de Miles e Hurley, a imortalidade de Jacob e de Richard, foram simplesmente esquecidos, porcamente mencionados ou, pior, contraditos. Sem contar uma série de enigmas menores, cujas respostas supostamente podem ser deduzidas, mas a bem pensar nenhuma explicação soa plausível (por exemplo, o fato de Michael não conseguir se matar – porque ele era candidato? Então por que Charlie e Sayid conseguem?).

Mesmo esquecendo tudo isso, a história que efetivamente nos contaram não ajuda. Até na mais alta das panorâmicas, a coisa é insuportavelmente mal feita. Por exemplo, nos disseram que a única maneira de a Black Smoke sair da Ilha, ou destruí-la, é manipulando outras pessoas para fazer o seu serviço indiretamente. O que Jacob faz, então? Traz centenas de pessoas à Ilha. Bastaria não trazer nenhuma! E como cada um é mais burro que o outro, a Black Smoke demora 2 mil anos para conseguir fazer alguém ir lá matar Jacob (mesmo podendo ameaçar de morte várias pessoas, e se passar por entes queridos delas – mesmo podendo transformar as pessoas em marionetes infectadas!). Pra piorar, ora Jacob reage, capotando no soco pra cima de Alpert, ora simplesmente se deixa matar por Ben, praticamente entregando o ouro. Não faz nenhum sentido.

Sobre as “regras”, que moveram a trama de Lost por três temporadas, justificaram assassinatos, riscos de vida, suspensão de vingança e, acima de tudo, justificaram o fato inexplicável de a Black Smoke não poder simplesmente ir pra cima de Jacob ou, ao menos, dos candidatos – bem como o fato anedótico de que (pelo menos) Alpert não pode causar a própria morte – na-da-foi-ex-pli-ca-do. As regras são claramente malucas. Por que Alpert não pode se suicidar, mas pode morrer pelas mãos de outra pessoa (e que imortalidade inútil era essa, portanto?)?

Por exemplo, ficou sugerido que os candidatos não podem morrer causando a própria morte (pelo menos, com Jack acendendo a dinamite, no Black Rock). Ao mesmo tempo, foi dito o oposto: que os candidatos podem morrer causando a própria morte (e por isso (F)Locke fez com que eles tentassem desarmar a bomba, no submarino – de fato, Sayid morre assim). Não fosse pela elegância que encobre falhas (o que, sim, é um mérito de Lost), todos veriam que isto ficou tão ruim quanto Heroes.

As regras entre Jacob e (F)Locke parecem mais como leis da física: impossíveis de quebrar. Mas como elas funcionam? Como surgem? Estão associadas a Jacob (como disse seu irmão, ele criaria regras no futuro), ou à Fonte de Luz (não parece, já que Hurley é livre pra fazer as regras que quiser)? Por que Alpert começa a envelhecer após a morte de Jacob e o fim de suas cinzas, mas as outras regras, como (F)Locke não poder atacar os candidatos, se mantêm de pé? Esse deveria ser o coração da trama de Lost, mas é mera arbitrariedade de roteiro.

Já as regras entre Ben e Widmore, aparentemente, são algo como “em respeito a Jacob, não cause mal ao seu camarada-Outro”. Por exemplo, Ben matar o próprio pai, que é da Dharma, é ok. E são regras “quebráveis” (Widmore as quebra com o assassinato de Alex). Isto parece dar o direito de Ben matar a filha de Widmore (olho-por-olho), mas não o próprio Widmore. Ben realmente tem um respeito sagrado por Jacob. Até que perde a fé, mata Jacob e, portanto, manda as regras pro lixo e simplesmente vai lá e atira em Widmore. Parece que fecha. Tudo muito lindo (e eu fiz muita força pra dar coerência a tudo), maaaaas… o fato é que Ben confessou mandar Goodwin para morrer nas mãos de Ana-Lucia, por ciúme de Juliet… ¬¬ Atirou em e depois até matou John Locke (que já era lider dos Outros)!! Sério que, tendo quebrado as regras nesses casos, ele ia respeitá-la justo no caso de Widmore, que matou sua filha?! Very bad… E eu espero que agora esteja mais claro como foi dolorosa essa reta final de Lost.

Outro ponto crucial da mitologia, que foi largado às traças, é a imortalidade. Céus, como Jacob sobreviveu 2 mil anos? Como Alpert passou séculos jovem? Não pode ser simplesmente a Fonte de Vida da Ilha, porque então ninguém envelheceria. Sim, eles nos deram a resposta: basta beber um líquido na presença do guardião da Ilha, e você será imortal enquanto as cinzas deste guardião não forem queimadas.

Ou seja, tudo não passa de uma simpatia de folhetim, de quinta categoria. Que droga, isso era pra ser Lost! Dá pra conceber uma resposta mais sem sentido e estúpida? Já vi pessoas dizerem que ninguém pergunta, em Harry Potter, como eles conseguem fazer mágica. Eles simplesmente fazem. E que então tudo bem Lost fazer o mesmo. Mas é uma péssima analogia, porque até a trama de Harry Potter tem regras internas claras, e até ali seria ridículo se Harry Potter ficasse imortal e invulnerável simplesmente bebendo água! Exigira um encanto fabuloso, algo que nem os maiores mestres da Escola de Magia poderiam fazer. Imortalidade é um conceito poderoso em qualquer ficção, e nem os maiores magos de Harry Potter, nem os maiores Jedi de Star Wars, podem se tornar imortais sem uma explicação muito boa, sem um esforço espetacular. E é isto o que gera drama, claro. O que Lost jogou no lixo de maneira primária, infantil.

NÃO SE FICA IMORTAL E INVULNERÁVEL POR BEBER ÁGUA OU RECITAR VERSINHOS EM LATIM.

Até em Alice no País das Maravilhas isso seria ridículo.

#Ver fãs aceitando isso de boa dá até vergonha alheia, putz.

E por falar em “Fonte da Vida”, esta ideia parece ter o mérito de tornar plausível que, por se aproximar dessa Fonte, as pessoas voltem a ficar saudáveis e sararem rapidamente. Locke andando; Rose sem câncer; etc. Mas por que mulheres grávidas morriam? Por que Ben não se curou sozinho? A luz é moralista e só salva os bons? Então por que salvou Bakunin tantas vezes e deixou de salvar Boone, ou o agente que aprisionava Kate?

Além do mais, supostamente ocorre “algo pior que a morte” com quem entra na Caverna de Luz. E é óbvio que ficar imortal e ganhar poderes fabulosos se tornando a Black Smoke é pior do que a morte… Ãh? Ok, ok, é que perder os sentimentos é que é pior que a morte (mas se a Black Smoke não tem sentimentos, não pode ser má… Ôõ… Tá, abstrai.). No entanto Jack entra lá e morre! “Ah, mas Desmond tinha desligado a Luz, então ok”. É, mas Jack volta lá dentro e religa a Luz. E morre. Game over. Nem com esse farrapo de trama, inventado na última hora, foram coerentes – ou, se você preferir, a Black Smoke nunca foi o irmão de Jacob, afinal. Mas isso só provaria que realmente nada nos contaram sobre ela. Quer pular da frigideira para o fogo?

E os caprichos insanos de Jacob? Supostamente ele trouxe “pessoas solitárias” para a Ilha. Claro que essa é outra desculpa que gera problemas. É difícil ver o que havia de errado com o piloto do avião e todas as pessoas que só foram morrer ali. Qual era o problema de Libby? E das crianças, que só fizeram ficar órfãs? Jacob não tinha um método melhor, pra trazer o avião, do que ‘fazer Desmond se atrasar na escotilha’? Sem contar coisas péssimas como Sayid estar feliz da vida, Jacob ir lá e praticamente ser o responsável pela morte de Nádia (quando poderia simplesmente riscar o nome de Sayid da lista e deixá-lo em paz, como fez com Kate) – aliás, nada explica Sun não ter viajado pro passado no voo Ajira. Se é por não ser mais candidata, como estão dizendo, Kate também não era mais.

4  8  15  16  23  42 – que frustração! Os bad numbers ora deixavam Hurley com azar, ora o deixavam com sorte mas enchiam de azar quem estivesse por perto. Por quê? Nada, foi à-toa. A Dharma transmitia tais números. O ARG Lost Experience nos deu a ótima explicação de que os números se tratavam do resultado de uma equação relacionada a eventos catastróficos, como o fim do mundo. Então, onde quer que haja desastres, a tendência é a manifestação dessas constantes. E talvez vice-versa. Isso explicaria de modo interessante o azar de Hurley, a queda do asteroide. Mas a chamada Equação de Valenzetti nem foi citada no seriado. Então conta? Acho que não. E só fizeram estragar o conceito ao mostrar que, do nada, os 6 candidatos finalistas calharam de ter os bad numbers. Não, não tem explicação.

Por fim, claro, comento os dois maiores crimes de Lost: não responderem o que é a Ilha e nem como surgiu a Black Smoke. Isso eles tinham que responder. Os conformados veem respostas: a Ilha é a Fonte de Vida do planeta, posta ali por alguma inteligência desconhecida (ETs, Deus, Duendes, Civilizações Antigas [evoluídas por seleção natural, rs], Seres do Futuro, Programadores da Matrix, etc.). E a Black Smoke é o resultado de um homem jogado dentro da Fonte.

Não são respostas, é claro.

A ‘resposta’ sobre A Ilha até passaria, se não viesse ilustrada por uma (sério!) Rolha de Vinho Gigante, que faz o “nooooo!” de Darth Vader parecer shakesperiano. Mas a verdade é que a própria ideia de uma Fonte de Vida, escondida numa caverna, que é ciclicamente protegida por guardiões solitários matusaléns é simplesmente ruim. É arbitrária, simplista, tosca. Pusessem esta Fonte no centro da Terra! Estaria a salvo! Ou, já que conseguem esconder a Fonte dentro da Ilha, escondessem a Ilha do mundo. Aquele guardião, afinal, só serve para fazer as pessoas descobrirem que a Fonte existe! Quando essas ideiazinhas chovem na cabeça, pode apostar que temos algo ridículo diante de nós. Mas isto é revelador: a trama de Lost se revela tão patética quanto a trama de qualquer religião, Bíblia, Torá, I-Ching tomadas ao pé da letra… Por que será? E pra não me acusarem de estar simplesmente tomado por um ódio idealista à religião, devo dizer que amo a sofisticação religiosa de Star Wars. A questão não é ser religioso ou científico. É fazer algo que preste!

Sobre a Black Smoke… a emblemática Black Smoke, que disparou nossas paixões ao derrubar árvores no episódio piloto, e tinir com seus insondáveis sons mecânicos. Aquilo não era sobre os personagens. Eles eram meros coadjuvantes para a experiência marcante, genial, de ser perguntar, atônito: o que É esse… monstro?! E, claro, tantas outras perguntas. A resposta foi prometida, e nunca veio. O maior mistério de Lost não passou de embromação. De engodo mesmo.

Tudo o que nos foi dito só tornou a Black Smoke patética: que ela veio de uma Caverna de Luz, sem mais, nem menos; que ela (sério) não consegue avançar no espaço vertical onde há cinzas de Jacob (ou cinzas e ponto, sei lá); que ela, às vezes, fica “presa” numa forma física sem razão alguma pra isso (e note que, mesmo depois de assumir a forma supostamente imutável de Locke, a Black Smoke ainda se passa por Alex, para Ben); e que, uma vez apagada essa Luz, ela se torna um corpo humano físico real (e de onde veio esse corpo, já que todos os reais corpos foram sepultados?). Como ela copia corpos? Por que tem sons mecânicos? Qual sua natureza? Como e por que surgiu? Por que diabos mataria o piloto Seth Norris, pra começo de conversa? Seis temporadas que se revelaram ser pura bullshit, pura bobagem nonsense.

Minha última resposta é àqueles que insistem que as respostas, se viessem, “soariam forçadas”. Este é o maior auto-engano de todos. No passado, Lost respondeu (de maneira sutil, completa e genial) essa série de questões a princípio insondáveis:

– O que havia na escotilha.
– Como e por que havia um urso polar na ilha.
– Como e por que Richard Alpert visitou o Locke criança.
– O que fazia Faraday na Iniciativa Dharma, nos anos 70?
– Por que a escotilha acende pra Locke?
– Que diabos era aquela transmissão de uma francesa pedindo ajuda, há 16 anos? (saudaaades doloridaaas!)
– Como Locke ressuscitou?
– Que voz Boone escuta no rádio do aeroplano nigeriano? (era Bernard!)

Etc, etc. As pessoas amaram, em uníssono. A série se tornou um mito moderno. Fazia sentido. Nada de ‘forçado’. Agora que as respostas não vieram, ou que são um lixo, paira esse auto-engano constrangedor de “isto é melhor do que se tivesse respostas claras”. Ah, a falsa consciência dos fãs conformistas…

Como um belo namoro que termina trágico, com traição, o passado maravilhoso também se revela amargo aqui.

Adeus, Lost.

Agradecimentos a Anderson Nunes, pela colaboração.

Saber ou não saber? House vs J. J. Abrams

maio 22, 2010

Se a magia se vai quando a verdade é descoberta, nunca houve magia.

Esta é a brilhante resposta com que o Dr. Gregory House nos brinda, em House S04E08 – You don’t want to know, ao discordar de um mágico que acabara de dizer: “As pessoas vão ao meu show porque querem um pouco de magia. Elas querem experimentar algo que não podem explicar”.

(A propósito: dizem que a série House é “formulaica”, que todos os episódios são iguais. Oras, isso é pra quem pode. House pode se dar o luxo de repetir a fórmula da embalagem, porque o programa se baseia no conteúdo – que talvez seja o melhor da TV moderna.)

Então aí está o Dr. House, em outra tirada ácida, pondo abaixo o pobre romantismo dos que preferem manter a cortina de ignorância – e que só conseguem ver beleza nisso. E pensar que Dawkins escreveu um livro inteiro, Desvendando o Arco-Íris, só pra criticar essa postura. Afinal, o arco-íris fica muito mais belo depois de explicado. Cientificamente explicado. E depois… há sim algo de mórbido em se preferir acreditar no pote-de-ouro ao preço de nunca poder ir lá verificar (pois no fundo se sabe que a investigação ‘quebrará o encanto’). É fraqueza auto-inflingida.

Diz o mágico: “a diversão está em não saber”. Diz House: “a diversão está em saber”.

E não é que, por mera coincidência, no mesmo dia que assisti ao citado episódio, também vi a palestra de J. J. Abrams – o criador de Lost – para o TEDTalk?

E justo agora, que só falta um episódio pra Lost acabar e quase todos os seus mistérios ainda estão sem solução, que decepção não foi ver J. J. Abrams falando de sua “caixa mágica” e dizendo:

O mistério é o catalisador da imaginação (…) há horas em que o mistério é mais importante que o conhecimento.

“…e comecei a pensar em Lost…” – very bad, J. J. Abrams!

E antes de continuar descendo lenha nisto, só queria salientar que foi incrivelmente oportuno ver as duas coisas no mesmo dia. É quase como se House e J. J. Abrams estivessem discutindo diante de mim!

Mas voltando à parte ruim… Acompanhei Lost por seis anos. De fato, os mistérios cativaram, hipnotizaram, se tornaram parte da vida ordinária. Sim, um feito clássico. Mas que só foi possível exatamente pela expectativa de que os mistérios seriam resolvidos. E brilhantemente resolvidos, diga-se. Toda investigação de House só é gratificante se, no final, ele descobrir qual é a doença. E melhor se a descoberta for capaz de curar. E eu estava ultraconfiante, até semana passada, de ser ‘curado’ destes seis anos de dúvidas loucas. Mas Lost chega a seu penúltimo episódio de forma tão aberta que está impossível acreditar que, amanhã (o apocalíptico 23 de maio para os fãs de Lost!), o Series Finale fará o esperado ‘milagre da explicação’. Falei sobre isso aqui. E agora que vi este TED de J. J. Abrams, desesperei de vez.

House representa a audácia racionalista de encarar a verdade. J. J. Abrams e sua “caixa mágica” representam o que eu só consigo chamar de apatia intelectual covarde.

A diversão? Está em saber! 😉

Site Fora do Ar… ¬¬ [atualizado: Online! =D]

maio 13, 2010

Pronto! Esqueçam tudo o que eu disse abaixo. Achei que ia dar um problema enorme, mas foi bem simples e está resolvido. A propósito, FlashFoward me obrigou a ver 5 episódios seguidos! É coisas das melhores mesmo!

*****

Fui pego de surpresa, hoje cedo, por um e-mail na caixa de spam. Milagre eu vê-lo. Era a HBE, o host que hospeda o Suástica Azul, cobrando a quase-grátis anuidade de 10 reais por ano. Problema nenhum, eu nunca ia lembrar disso mesmo. O absurdo foi que, sem aviso prévio, tiraram o site do ar – e, pelo que vi, apagaram tudo! Felizmente, estou muito bem prevenido com backups, se não já era.

Logo agora, que o site bateu o recorde de visitas mensais. Foram 2.400 em abril.

Bom, vou tentar resolver isso o mais rápido possível.

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Só pra registrar: hoje vi o antepenúltimo episódio de Lost, talvez o melhor da série! E – pra aguentar a porrada que vai ser a despedida desta série milagrosa – comecei a ver a badalada série FlashFoward. Primeiro episódio: fa-bu-lo-so! O segundo, verei exatamente agora. =D

Duas Pilhas e a Missão Impossível

abril 16, 2010

A primeira é a pilha psicológica de estar sob efeito de cafeína concentrada, condição que me impus hoje para acelerar a leitura das 900 páginas do meu Compêndio de Filosofia (organização por Nicholas Bunnin e E. P. Tsui-James) que chegou ontem. Sim, é doping intelectual, kkkk. E a segunda pilha é a absurda pilha de livros que estou criando! Estudava matemática e parei a leitura de Howard Eves (900 páginas de história da matemática) para aceitar o desafio dos meus amigos intelectuais de ler Gödel, Escher, Bach, o clássico de Douglas Hofstadter (também de 900 páginas!) que, supostamente, me convenceria de que eu estou errado sobre a mente. E li 200 e poucas páginas dele até chegar o tal compêndio ontem…

{ se você acha que estou me vangloriando de encarar tantas páginas, saiba que, dessas 2700 páginas que estou falando, até agora só li 350… e já se vão dois meses… patético! ¬¬ }

Ah, o compêndio!

Textos esmerados sobre epistemologia, metafísica, filosofia da mente, ética, ontologia, Descartes, Hume, Nietzsche, etc, etc, etc. Tem até John Searle e Simon Blackburn no casting de filósofos que assinam os capítulos. Vício, vício, vício. Gödel, Escher, Bach vai esperar. Mas estou com pressa. E muita pressa, pois há mais a fazer!

Missão Impossível

Passei a semana divulgando o site no orkut. Visitas vão bater recorde esse mês, sem dúvida. Pra mais de 2 mil. Então, eu deveria atualizar o site. Mas estou claramente mega-boga-ocupado. Tem texto de O Mundo de Sofia pronto. Tem intenção e esboço de crítica para Atividade Paranormal e [REC]. Tem a velha ideia do Baú Paralelo, onde quereria postar todas as inúmeras coisas que anoto, porém não estruturadas como matéria. Tem a missão de comentar aqui o 4º Encontro Intelectual (IV-EI), que ocorreu semana passada no Rio e foi um sucesso (e quero mesmo fazer isso, como fiz para o 1º e 3º encontros – veja no topo à direita). Tem um esboço para as 5 (ou 10) coisas mais inexplicáveis de que já ouvi falar. Outro esboço para o clássico Bloco do Eu Sozinho, dos Los Hermanos. Uma ideia bem concreta para a falha capital de Nietzche ao tentar refutar o “penso, logo existo” de Descartes. Enfim, tem muita coisa pendurada, rs…

Estou correndo. Empolgado. Com pressa. “Engatando a quinta”, como disse no último editorial do site. Mas a tarefa é enorme! (E ainda querem que eu trabalhe?!?! 😮 rsrsrs)

Aliás, tudo isso obviamente explica minha escassa presença no messenger. Agora, deixa eu voltar pro livro. Próximo capítulo: Qual a natureza do tempo? 😉